O Dia Seguinte
Lembrava do filme da época áurea do Supercine, quando era bem garoto. Só me vinha à cabeça a imagem das pessoas correndo ao supermercado a fim de pegarem mantimentos e o efeito radioativo por meio de uma espécie de radiografia, na qual aparecia o esqueleto das pessoas atingidas pela explosão.Revi o filme agora e que surpresa ao constatar que é um típico exemplo, talvez o maior, daquele cinema catástrofe oitentista gerado pela disputa nuclear. Trata-se de um telefilme com cara de anos 80, até pelo jeitão de interior americano, e que se dá ao luxo de expor honestamente uma mensagem pacifista.
Realizado em 1983, o filme ganhou notoriedade por ter sido uma das maiores audiências da TV americana e apresentar de forma nada sutil os reais efeitos de uma guerra nuclear. Toda a turma do Kansas era adepta da calça jeans apertada e da boa e velha camisa xadrez – americanos típicos envoltos em seus problemas cotidianos. O problema é que a região, na divisa entre Kansas e Missouri, armazena as armas nucleares dos Estados Unidos. Alvo óbvio em uma possível terceira guerra. Quando as tais armas americanas são disparadas no auge de uma crise com a URSS gerada pela invasão da Alemanha, a destruição daquela inóspita região é questão de tempo. Chega o bombardeio e seu efeito devastador é retratado de maneira cruel – sem qualquer tentativa de maniqueísmo. Neste filme, a bandeira americana nas portas das casas traz um reflexo irônico da mesquinhez das relações patrióticas e pessoais.
Jason Robards (parece que já nasceu velho) comanda o elenco na pele do cirurgião boa-praça Russel Oakes, que lida com o excesso de trabalho, a maturidade da filha e o relacionamento duradouro com a esposa. Steve Guttenberg é um universitário que tenta voltar pra casa em meio ao caos de um iminente ataque nuclear. Temos ainda a família Dahlberg, envolvida com o casamento da primogênita, e o drama de Billy McCoy (William Allen Young) - militar perdido na própria desgraça. Além de uma boa turma de coadjuvantes, incluindo John Lithgow, como o inteligente professor Huxley. O charme do filme-catástrofe é que o espectador sabe o que vai acontecer, mas a tragédia é desconhecida aos personagens. Isso causa uma angústia tremenda. O roteirista Edward Hume e o diretor Nicholas Meyer trabalharam esse aspecto de forma magistral nos cinqüenta minutos que antecedem às explosões.
O fato que dá nome ao filme, o day after do ataque nuclear, é algo para corar o mais ferrenho milico republicano. Sem esperança, os protagonistas vão se desintegrando, junto com a Nação, vítimas dos devastadores efeitos radioativos naquele ambiente apocalíptico desolador. Apesar do tema nuclear estar démodé, a questão humanitária e a mensagem pacifista pregadas pela produção continuam em voga. A desesperança com que as vítimas recebem o discurso do presidente americano anunciando o cessar-fogo com a URSS e a pouca importância dada ao fato de saber quem disparou o míssil primeiro provam o caráter antibelicista de The Day After. As cicatrizes de uma guerra, qualquer que seja a forma de combate, vão muito além da história recontada pelos vencedores ou dos atos “heroícos”. Não sei é por que Spielberg, que sempre explorou da forma mais imbecil a guerra e outras fobias, se deu tão bem, enquanto Nicholas Meyer teve que se contentar em escrever roteiros para os outros. Como diria Vonnegut, outro antibelicista ferrenho, são “coisas da vida”.
Ponto Alto: a cena final quer sair piegas, mas, na verdade, causa comoção. Impossível não ficar emocionado.
Ponto Baixo: algumas cenas foram nitidamente enxertadas. Faltou um pouquinho mais de esmero na edição.
Realizado em 1983, o filme ganhou notoriedade por ter sido uma das maiores audiências da TV americana e apresentar de forma nada sutil os reais efeitos de uma guerra nuclear. Toda a turma do Kansas era adepta da calça jeans apertada e da boa e velha camisa xadrez – americanos típicos envoltos em seus problemas cotidianos. O problema é que a região, na divisa entre Kansas e Missouri, armazena as armas nucleares dos Estados Unidos. Alvo óbvio em uma possível terceira guerra. Quando as tais armas americanas são disparadas no auge de uma crise com a URSS gerada pela invasão da Alemanha, a destruição daquela inóspita região é questão de tempo. Chega o bombardeio e seu efeito devastador é retratado de maneira cruel – sem qualquer tentativa de maniqueísmo. Neste filme, a bandeira americana nas portas das casas traz um reflexo irônico da mesquinhez das relações patrióticas e pessoais.
Jason Robards (parece que já nasceu velho) comanda o elenco na pele do cirurgião boa-praça Russel Oakes, que lida com o excesso de trabalho, a maturidade da filha e o relacionamento duradouro com a esposa. Steve Guttenberg é um universitário que tenta voltar pra casa em meio ao caos de um iminente ataque nuclear. Temos ainda a família Dahlberg, envolvida com o casamento da primogênita, e o drama de Billy McCoy (William Allen Young) - militar perdido na própria desgraça. Além de uma boa turma de coadjuvantes, incluindo John Lithgow, como o inteligente professor Huxley. O charme do filme-catástrofe é que o espectador sabe o que vai acontecer, mas a tragédia é desconhecida aos personagens. Isso causa uma angústia tremenda. O roteirista Edward Hume e o diretor Nicholas Meyer trabalharam esse aspecto de forma magistral nos cinqüenta minutos que antecedem às explosões.
O fato que dá nome ao filme, o day after do ataque nuclear, é algo para corar o mais ferrenho milico republicano. Sem esperança, os protagonistas vão se desintegrando, junto com a Nação, vítimas dos devastadores efeitos radioativos naquele ambiente apocalíptico desolador. Apesar do tema nuclear estar démodé, a questão humanitária e a mensagem pacifista pregadas pela produção continuam em voga. A desesperança com que as vítimas recebem o discurso do presidente americano anunciando o cessar-fogo com a URSS e a pouca importância dada ao fato de saber quem disparou o míssil primeiro provam o caráter antibelicista de The Day After. As cicatrizes de uma guerra, qualquer que seja a forma de combate, vão muito além da história recontada pelos vencedores ou dos atos “heroícos”. Não sei é por que Spielberg, que sempre explorou da forma mais imbecil a guerra e outras fobias, se deu tão bem, enquanto Nicholas Meyer teve que se contentar em escrever roteiros para os outros. Como diria Vonnegut, outro antibelicista ferrenho, são “coisas da vida”.
Ponto Alto: a cena final quer sair piegas, mas, na verdade, causa comoção. Impossível não ficar emocionado.
Ponto Baixo: algumas cenas foram nitidamente enxertadas. Faltou um pouquinho mais de esmero na edição.
2 Comments:
Vem pro FODUM véio!!!
Você vai gostar.
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É um fórum com o estilo do teu blog.
Um comentário sobre Spielberg: ele nem sempre errou – ele fez 1941, pô! 1941 é genial – e ali ele explorou BEM as fobias do americano via sátira. Só que foi o seu único fracasso monstruoso em meio a uma escada de mega-hits um atrás do outro. Paciência...
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