3 de janeiro de 2008

Contra Todos


Fascinante, instigante e altamente deprimente a exposição de uma periferia tão sórdida, mas tão verossímil neste bom filme, que foge de qualquer estereótipo cinematográfico. Dirigido por professor da USP, Contra Todos tem como maior mérito o excelente acabamento na construção de seus perturbados personagens. Filmado com câmara digital em som ambiente e interpretações improvisadas, o filme segue a idéia de um olhar documental sobre existências miseráveis. Impossível ficar indiferente à desesperança de gente sórdida lutando pela sobrevivência em um ambiente tão desagradável.

A opção dos realizadores – Fernando Meirelles entre os produtores – foi construir a trama em uma periferia sombria, sem qualquer resquício daquela pobreza colorida e cercada de trajetórias alegres tão explorada pela mídia nacional. A vida naquela área da zona leste de São Paulo é escura e triste, não há qualquer resquício de felicidade ou sinal de alívio. O filme gira em torno da família de Teodoro (Giulio Gomes). Ele é um matador profissional que, na companhia do amigo Waldomiro (Ailton Graça), executa marginais nas proximidades de onde vive. A família de Teodoro ainda é formada pela filha rebelde, Soninha (Silvia Lourenço), e pela esposa infeliz (Leona Cavalli). Estes quatro personagens se confundem em suas frustrações, anseios e desejos em uma ciranda urbana, sombria e miserável.

O filme tinha tudo para ser uma bomba. Pensa comigo: intelectual paulistano fazendo retrato cru (com câmara na mão) dos pobres da sua cidade, interpretações comandadas pelo improviso e gente graúda na produção. Com exceção de um detalhe ou outro, pensamos logo em Cama de Gato. Entretanto, Contra Todos se prestou a ser apenas um filme e como isso valeu mais que qualquer panfleto repleto de idéias políticas ou interpretações sociais. A crítica está lá, obviamente, mas o filme vale mais como uma tragédia intimista bem elaborada e extremamente bem executada. Cinema brasileiro de primeira.

Ponto Alto: O elenco está irretocável. Não há qualquer crítica que possa ser feita neste sentido.

Ponto Baixo: As reviravoltas do roteiro, apesar de chocantes nas apresentações, foram idealizadas de maneira muito simplista. Pensando com calma, pode-se dizer que essa simplicidade se encaixa no contexto do projeto. Como sou obrigado a falar mal de alguma coisa, fica o registro.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Você se acha bom demais para Superbad?

4:18 AM  
Blogger Karashima said...

Este comentário foi removido pelo autor.

2:13 PM  
Blogger Karashima said...

Fala Junior! Mlk, assisti Superfly ontem.. gostei não, cara... mas c/ certeza é pq eu tô acostumado c/ aquelas edições mirabolantes da atualidade. Achei algumas tomadas excessivamente longas, tipo: mostra o cara saindo de casa, andando até o carro, entrando no carro, ligando, fazendo a manobra, saindo, e aí a cena só termina qdo o carro está no horizonte... mas valeu aí, é sempre bom conhecer!

2:14 PM  
Blogger Juarez Junior said...

Pô Rodrigão.. não gostou de Superfly - talvez seja o lanace mesmo da edição mais fácil a qual estamos acostumados. Nem da música vc gostou?

6:40 PM  
Blogger Karashima said...

Gostei sim da música! Funkeira anos 70 é o q há!

9:29 AM  

Postar um comentário

<< Home