12 de fevereiro de 2006

Tentação



Mark Ruffalo é uma espécie de galã desajustado e desleixado, um cara como qualquer outro. A identificação é quase imediata. Ele tem talento, mas centralizar um filme intimista nas mãos dele foi um dos fatores que matou Tentação, baseado em dois contos de André Dubus. Ruffalo não segura o filme no papel do confuso Jack Linden, sorte da querida cult Laura Dern que dá show como a esposa traída Terry. Dizem que ganhou até um prêmio dos críticos de Boston pelo papel. É fácil imaginar Dern saindo exausta das gravações, pois a menina se entrega em uma interpretação visceral. No entanto, andorinha só não faz verão e ela não tira o filme da mediocridade. A culpa também não é só de Ruffalo como protagonista, mas principalmente do diretor John Curran. Ele tem mão frouxa e consegue estragar o que seria uma produção alternativa americana bem acima da média.

A estória gira em torno de uma ciranda de adultérios entre casais mui amigos. Jack Linden é o centro, quer dizer sua esposa o ama e não quer perdê-lo e a amante Edith Evans (Naomi Watts) também é apaixonada pelo cara. Edith está disposta a abandonar a vida aparentemente estável e o marido Hank (o ator de seriado Peter Krause, no melhor estilo bucha de canhão) pra ficar com o amante. Jack, como não poderia ser diferente, está confuso com a situação, pois apesar de transar numa boa com Edith, tem culpa pelo amigo e quer manter o casamento, mesmo que este esteja se desfazendo – filhos pequenos e outras coisinhas mais. Desse modo, o inevitável acontece, ele empurra o amigão pra sua esposa, uma forma de expiação ou algo do tipo. É lógico que essa atitude não consola, mas machuca.

A primeira crítica vai para as personagens femininas. Enquanto os maridos são professores de literatura em universidades pequenas, elas são, simplesmente, donas de casa e vivem pelo e para os parceiros. A submissão de Terry para manter Jack em casa é simplesmente ridícula e soa inverossímil. Estamos no século XXI e uma concepção assim soa como agressão a todas as conquistas feministas. Outro fator negativo fica por conta dos Evans, eles são muito mal explorados. Sabe-se que Hank tem mais sucesso profissional que o rival e que Edith é pra lá de insegura. Engraçado, pois a única decisão plausível e consciente quem toma é a personagem de Watts no final da trama. Menos mal!

No entanto, o diretor pisa com força em todo o trabalho, que apesar dos problemas citados se manteria em um bom nível, ao entregar um filme extremamente CHATO. Em suma, Tentação é aborrecido, pois, apesar da boa música e fotografia, tem uma edição lamentável. A falta de ritmo afunda de vez as pretensões desse círculo de amores, inseguranças e traições. Falta personalidade aos protagonistas e também ao diretor. No final, o espectador fica se perguntando se vale mesmo tentar expor personagens em princípio tão complexos. A troco de quê, de um simples estudo de casos de adultério? Muito pouco!

Ponto Alto: o figurino é impecável para a proposta do filme. Cidade pequena nos EUA.

Ponto Baixo: Naomi Watts está contida demais.