A Paixão de Cristo
Sou católico praticante e tenho orgulho disso. Respeito todas as crenças desde que preguem o bem ao próximo e a paz de espírito. Sei que minha Igreja já foi usada e também apoiou ou inventou situações não muitos cristãs, digamos assim. Mas como respeito a todos, apenas espero que respeitem minha religião. Feitas essas considerações situacionais, vamos ao filme de hoje – o forte A Paixão de Cristo dirigido por Mel Gibson em 2004. Usaram o filme pra lançar a velha dicotomia – igreja repressora e intolerante versus o mundo que não pára de evoluir. Você realmente acredita nisso? Esse velho maniqueísmo não encontra lugar nos dias de hoje, justamente porque o mundo mudou e qualquer intolerância é vista com olhos ruins. O que acusam os cristãos de fazer é a principal defesa contra o preconceito que sofrem.
Muito da polêmica envolvendo o filme se deve ao fato do retrato pouco amigável dos judeus. Realmente a participação deste povo nos últimos momentos de Cristo foi usada como desculpa para muita monstruosidade feita a posteriori, mas no caso deste filme não soa assim tão ofensivo. Quem tem o mínimo de senso sabe que neste episódio da crucificação de Jesus Cristo os judeus fazem a alegoria da própria humanidade. É claro que de um povo que sofreu tanto, qualquer reminiscência do episódio é algo temeroso. Mesmo assim, houve uma certa má vontade por parte de todos ao insistir tanto neste aspecto.
A Paixão de Cristo trata das horas derradeiras de Jesus. Por mais que a pessoa não seja cristã, aqui no Ocidente todos sabem da importância do personagem. O diferencial está na composição de imagens bem editadas; nos diálogos em aramaico e na fotografia com variações acentuadas em cada momento da trama. Mas esta foi apenas a minha interpretação, pois além do suposto anti-semitismo o foco se voltou para o fato de que Gibson optou por mostrar um Cristo realmente combalido a fim de chocar o espectador incauto. Eu disse incauto, pois a turma que está acostumada a filmes italianos e outras pérolas do cinema explotation realmente não se chocou com as cenas de tortura. Pode se emocionar pelo personagem e tudo, mas não pela agressão das imagens. Uma evangelização até certo ponto grosseira, mas que inegavelmente funciona. Como a intenção era essa, ponto para o diretor.
Enfim, tiveram má vontade com Gibson, pois A Paixão de Cristo está acima da média e conta com um Jesus muito bem caracterizado por Jim Caviezel. Um filme bonito que precisa ser visto com mais tranqüilidade; o momento é agora, depois de passada a tempestade de seu lançamento. Prefiro o Cristo (caucasiano, como disseram alguns) de Gibson, ao Jesus arrogante e antipático de O Evangelho Segundo São Mateus de Pasolini. Não me entendam mal, aquele filme é belíssimo e mais bem intencionado que simplesmente irônico. Entretanto, o italiano entregou um Cristo furioso e não um manso e humilde de coração. Mesmo assim, o Vaticano adora a versão pasoliniana. Pois é isso, apesar de Gibson ter se mostrado depois um cara meio maluco mesmo, em A Paixão de Cristo ele foi praticamente irrepreensível. Tenho minhas dúvidas sobre o talento do cineasta, mas não duvido da força de Deus. Pense bem, o astro cafona de Máquina Mortífera dirigindo com talento ímpar uma estilosa e reflexiva reconstituição dos últimos momentos de Cristo na Terra. E tem gente que ainda não acredita em milagres.
Ponto Alto: a interpretação magistralmente carregada de Maria feita por Maia Morgenstern. Irretocável.
Ponto Baixo: o diálogo em aramaico é beleza, mas, como ninguém sabe direito o que está dizendo, em algumas cenas (protagonizadas por atores ruins) ficou parecendo via sacra de criança. Vide o caso dos sumo-sacerdotes.
Muito da polêmica envolvendo o filme se deve ao fato do retrato pouco amigável dos judeus. Realmente a participação deste povo nos últimos momentos de Cristo foi usada como desculpa para muita monstruosidade feita a posteriori, mas no caso deste filme não soa assim tão ofensivo. Quem tem o mínimo de senso sabe que neste episódio da crucificação de Jesus Cristo os judeus fazem a alegoria da própria humanidade. É claro que de um povo que sofreu tanto, qualquer reminiscência do episódio é algo temeroso. Mesmo assim, houve uma certa má vontade por parte de todos ao insistir tanto neste aspecto.
A Paixão de Cristo trata das horas derradeiras de Jesus. Por mais que a pessoa não seja cristã, aqui no Ocidente todos sabem da importância do personagem. O diferencial está na composição de imagens bem editadas; nos diálogos em aramaico e na fotografia com variações acentuadas em cada momento da trama. Mas esta foi apenas a minha interpretação, pois além do suposto anti-semitismo o foco se voltou para o fato de que Gibson optou por mostrar um Cristo realmente combalido a fim de chocar o espectador incauto. Eu disse incauto, pois a turma que está acostumada a filmes italianos e outras pérolas do cinema explotation realmente não se chocou com as cenas de tortura. Pode se emocionar pelo personagem e tudo, mas não pela agressão das imagens. Uma evangelização até certo ponto grosseira, mas que inegavelmente funciona. Como a intenção era essa, ponto para o diretor.
Enfim, tiveram má vontade com Gibson, pois A Paixão de Cristo está acima da média e conta com um Jesus muito bem caracterizado por Jim Caviezel. Um filme bonito que precisa ser visto com mais tranqüilidade; o momento é agora, depois de passada a tempestade de seu lançamento. Prefiro o Cristo (caucasiano, como disseram alguns) de Gibson, ao Jesus arrogante e antipático de O Evangelho Segundo São Mateus de Pasolini. Não me entendam mal, aquele filme é belíssimo e mais bem intencionado que simplesmente irônico. Entretanto, o italiano entregou um Cristo furioso e não um manso e humilde de coração. Mesmo assim, o Vaticano adora a versão pasoliniana. Pois é isso, apesar de Gibson ter se mostrado depois um cara meio maluco mesmo, em A Paixão de Cristo ele foi praticamente irrepreensível. Tenho minhas dúvidas sobre o talento do cineasta, mas não duvido da força de Deus. Pense bem, o astro cafona de Máquina Mortífera dirigindo com talento ímpar uma estilosa e reflexiva reconstituição dos últimos momentos de Cristo na Terra. E tem gente que ainda não acredita em milagres.
Ponto Alto: a interpretação magistralmente carregada de Maria feita por Maia Morgenstern. Irretocável.
Ponto Baixo: o diálogo em aramaico é beleza, mas, como ninguém sabe direito o que está dizendo, em algumas cenas (protagonizadas por atores ruins) ficou parecendo via sacra de criança. Vide o caso dos sumo-sacerdotes.
5 Comments:
fala, meu. tudo bem?
eu fiz 1 blog com a proposta de reunir e exibir vídeos (coletados de páginas como youtube) de ou sobre grandes cineastas. quando ou se você puder, você colocaria 1 link para lá http://filmescopio.blogspot.com/ no seu blog?
valeu. um abraço.
Gostei muito de A Paixão de Cristo (aliás, a cada dia que passa Mel Gibson me surpreende mais e mais como diretor). Lógico que a igreja, recalcada, jamais vai gostar que pisem nos calos dela, daí as críticas excessivas.
(http://claque-te.blogspot.com): A Pele, de Steve Shainberg.
Grandes Estevão e Roberto. Gostei do blog e vou atualizar minha lista... Seja muito bem-vindo.
Pois é Roberto, como vc ressaltou é por essas e outras que eu gosto de dizer que sou um católico de esquerda. ESta imagem de conservadorismo não tem mais espaço. Será que as pessoas não entendem que os problemas sociais não vão acabar com esta intolerância tão alardeada hj em dia. Olha só a questão da violência: a mídia tá dizendo pra matar qq ladrão de carteira, pois ninguém agüenta mais e tal. Será que essa é a melhor solução?
Abração a dois bons amigos virtuais.
Oi lindo!
Gostei muito do seu comentário do filme, retrata bem a mensagem que devemos levar dele. Se todas as pessoas pensássem mais em refletir sobre a verdadeira "Paixão de Cristo" e deixássem de lado as atitudes defensivas e discriminatórias, talvez pudéssemos entender melhor o propósito de Cristo aqui na terra.
Bjs
Ótimo texto! Assino embaixo!
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