Calígula
Malcom Mcdowell capitaneando o elenco, produção a cargo do genérico de Hugh Hefner e dono da Penthouse, Bob Guccione, roteiro do aclamado Gore Vidal e direção nas mãos do maluco tarado italiano Tinto Brass. Produção rodada na Europa com gastos estratosféricos. O resultado tinha tudo pra ser um sucesso arrebatador, mas aconteceu justamente o contrário. O filme foi um fiasco comercial. Às favas com esse detalhe; o que importa é que estamos diante de um clássico explotation, recheado de artistas consagrados em situações constrangedoras. O que é aquela cena com Peter O’Toole? Sem comentários. O caso é que a despeito das frustrações de uma produção que não deu o retorno esperado, estamos diante de um filme ousado, divertido e interessante. Sinceramente, merecia melhor sorte.
Como todos sabemos, Calígula conta a estória de um dos mais ensandecidos imperadores romanos. Ele armou para chegar ao poder e fez de tudo para se manter lá, abafando com veemência qualquer tentativa de golpe. Até aí, tudo normal. O lance é que o cara era um hedonista egocêntrico capaz das mais bizarras excentricidades. Algumas mostradas no filme: apaixonado pela própria irmã, dormiu ao lado de um cavalo, tirou a virgindade de uma noiva e sodomizou o noivo na noite de núpcias do casal, ridicularizava constantemente os soldados do seu exército, promoveu uma orgia com as mulheres dos senadores e ao se fazer passar por um plebeu acabou preso e currado, e por aí vai. Um cardápio realmente sugestivo.
Malcom Mcdowell dá um show ao retratar com escárnio a loucura de uma figura tão poderosa. Discuto com um amigo que este é o melhor papel da carreira do ator inglês, inclusive melhor que o badalado Alex de Laranja Mecânica. A interpretação definitiva de Mcdowell. Ele é (ou era) maior que o próprio filme. O que não acontece sob a batuta de Kubrick. A despeito do talento do elenco, a maior polêmica de Calígula gira em torno das intervenções de Guccione. Disseram que ele usou a produção para mostrar as generosas curvas das modelos de sua revista e que inseriu cenas de sexo na hora da edição. Muito barulho por pouca coisa.
Outros fatos pitorescos contribuíram para a fama de maldita da produção. Gore Vidal, por exemplo, escreveu o roteiro, mas hoje renega o filme. Ele afirma que destruíram o que havia escrito e toda aquela conversa mole. Tô nem aí para Vidal, mas me incomoda o fato de Tinto Brass não ter ficado à vontade para comandar a produção. O filme teve custos muito altos e queriam apenas alguém que não complicasse. Vale lembrar que Wolfgang Petersen não era famoso na época! Desperdiçaram a chance de ver nosso querido italiano destilar seu talento fetichista. Sacanearam com Brass, e por isso confesso que é impossível não rir da pretensão canhestra da reconstituição de época. Lembra aqueles filmes sobre a vida de Jesus Cristo que passam na TV aberta durante a semana santa? Mesma coisa. Apesar de tantos erros, Calígula tem fortes momentos de violência (a máquina de arrancar cabeças é um delírio interessante) e várias cenas de nudez e sexo. Não deu certo, mas os fãs do explotation agradecem.
Ponto Alto: A interpretação irretocável de Helen Mirren como Caesonia. Pois é, a rainha Elisabeth, com toda a sua carga shakespeariana de teatro inglês, emprestou seu irrefutável talento dramático à Calígula.
Como todos sabemos, Calígula conta a estória de um dos mais ensandecidos imperadores romanos. Ele armou para chegar ao poder e fez de tudo para se manter lá, abafando com veemência qualquer tentativa de golpe. Até aí, tudo normal. O lance é que o cara era um hedonista egocêntrico capaz das mais bizarras excentricidades. Algumas mostradas no filme: apaixonado pela própria irmã, dormiu ao lado de um cavalo, tirou a virgindade de uma noiva e sodomizou o noivo na noite de núpcias do casal, ridicularizava constantemente os soldados do seu exército, promoveu uma orgia com as mulheres dos senadores e ao se fazer passar por um plebeu acabou preso e currado, e por aí vai. Um cardápio realmente sugestivo.
Malcom Mcdowell dá um show ao retratar com escárnio a loucura de uma figura tão poderosa. Discuto com um amigo que este é o melhor papel da carreira do ator inglês, inclusive melhor que o badalado Alex de Laranja Mecânica. A interpretação definitiva de Mcdowell. Ele é (ou era) maior que o próprio filme. O que não acontece sob a batuta de Kubrick. A despeito do talento do elenco, a maior polêmica de Calígula gira em torno das intervenções de Guccione. Disseram que ele usou a produção para mostrar as generosas curvas das modelos de sua revista e que inseriu cenas de sexo na hora da edição. Muito barulho por pouca coisa.
Outros fatos pitorescos contribuíram para a fama de maldita da produção. Gore Vidal, por exemplo, escreveu o roteiro, mas hoje renega o filme. Ele afirma que destruíram o que havia escrito e toda aquela conversa mole. Tô nem aí para Vidal, mas me incomoda o fato de Tinto Brass não ter ficado à vontade para comandar a produção. O filme teve custos muito altos e queriam apenas alguém que não complicasse. Vale lembrar que Wolfgang Petersen não era famoso na época! Desperdiçaram a chance de ver nosso querido italiano destilar seu talento fetichista. Sacanearam com Brass, e por isso confesso que é impossível não rir da pretensão canhestra da reconstituição de época. Lembra aqueles filmes sobre a vida de Jesus Cristo que passam na TV aberta durante a semana santa? Mesma coisa. Apesar de tantos erros, Calígula tem fortes momentos de violência (a máquina de arrancar cabeças é um delírio interessante) e várias cenas de nudez e sexo. Não deu certo, mas os fãs do explotation agradecem.
Ponto Alto: A interpretação irretocável de Helen Mirren como Caesonia. Pois é, a rainha Elisabeth, com toda a sua carga shakespeariana de teatro inglês, emprestou seu irrefutável talento dramático à Calígula.
Ponto Baixo: Tudo bem Guccione dirigir cenas de sexo, mas uma cena lésbica é tão gratuita e fora do contexto que chega a ser patético. Ridículo, para dizer o mínimo.
7 Comments:
Meu caro Juarez,
sempre leio seus posts, mas, por culpa da falta de tempo, quase nunca posso comentar. Porém, este aqui não podia deixar passar.
Ainda não assisti ao filme "Calígula", mas lembro de um trailer dele em uma fita de vídeo (da Paris Filmes, eu acho), quando eu tinha mais ou menos uns doze anos. Apesar de tanto tempo, algumas cenas ainda estão gravadas na minha memória: mulher (ruiva ou loira) dando pra um cavalo; mulheres nuas pulando em uma piscina; e a máquina de cortar cabeças de caras enterrados até o pescoço.
Na época eu quis alugar o filme, mas não consegui de jeito nenhum. De lá para cá, creio que fui esquecendo aos poucos.
Em uma VEJA que comentou o filme "A Rainha", havia uma foto de Helen Mirren em "Calígula", em trajes sumários, sobre a mesa de um banquete, o que reavivou meu interesse. Qualquer dia eu alugo, ou então peço emprestado a você.
Quanto à atuação de Malcom Mcdowell, por ainda não ter assistido a "Calígula", não posso comparar à de "Laranja Mecânica", a qual acho excelente. No entanto, li o livro "Laranja Mecânica" antes e depois assisti ao filme de Kubrick, e posso dizer que este é extremamente fiel à obra literária, com raríssimas mudanças (lembro de uma ou duas, no máximo), o que me agradou muito.
Há uma matéria no correioweb sobre uma biografia de Calígula, no seguinte endereço: http://divirta-se.correioweb.com.br/livros.htm?codigo=931. Na própria matéria há algumas curiosidades interessantes sobre o protagonista, como, p.ex., ele ter sido criado pela avó e ter sido o queridinho dos soldados quando criança, recebendo destes o apelido de Calígula.
Um abraço,
Kbção.
P.s.: estou escrevendo um livro, que, por ser cheio de diálogos e muito descritivo, pode facilmente ser adaptado em um roteiro. Se eu não conseguir publicar o livro, ou se conseguir também, talvez você possa me dar uma força pra transformá-lo em um roteiro de teatro ou de cinema. De qualquer forma, quando eu terminar (o que prevejo pra, no máximo, junho deste ano), envio uma cópia pra você dar uma lida e, gentilmente, dar a sua opinião, blz?
Por "roteiro de teatro" eu quis dizer "peça".
Kbção.
Fala Cabeção. Saudades de vc, cara! É o filhote... Quando quiser ver alguma coisa que eu tenha na minha coleção basta comunicar.
Sobre o livro com perspectiva de virar roteiro, já fiquei com água na boca e como sei do seu talento, fico tranquilo.
Abração garoto!
"Ponto Baixo: Tudo bem Guccione dirigir cenas de sexo, mas uma cena lésbica é tão gratuita e fora do contexto que chega a ser patético. Ridículo, para dizer o mínimo."
Ah, cara, vá à merda! Se fosse uma cena de sexo hetero - homem com mulher - você certamente não estaria dizendo isso. Aliás, não sei se percebeu, CENAS GRATUITAS DE SEXO permeiam quase todo o filme!
Patética e ridícula é a sua homofobia mal-disfarçada...
Sinceramente, cenas de sexo exacerbadamente gratuitas, artisticamente desnecessárias, servindo apenas para o deleite e interesse obscuro de Bob Guccione.
Nisso é que dá, a produção nas mãos de cafetão milionário.
Cara, vc não entende de nada. Um dos pontos mais altos de Calígula é justamente os cenários e os figurinos que ficaram a cargo do Grande Danilo Donati, colaborador frequente de Pasolini.O talento de Donato conferiu ao filme uma impecável reconstituição de época. Será que você nunca assistiu a Satyricon de Fellini? Lembra muito Calígula.E uma das melhores coisas do filme é justamente a cena lésbica protagonizada por Lori Wagner e Anneka di Lorenzo. Além de muito bem dirigida, não teve nada de gratuito dado o contexto histórico.
Prefiro evitar escrever sobre Bergman, Fellini, Truffaut e Rohmer por causa de alguns fãs chatos pra caramba. Seus argumentos sobre Danilo Donati não mudam nada e, na minha opinião, a cena lésbica continua horrível e gratuita. Sei que a recíproca não é verdadeira, mas respeito sua interpretação.
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