11 de junho de 2007

Zodíaco


São Francisco. Ao meu ver, a cidade que melhor exterioriza essa grande contradição chamada Estados Unidos. Mezzo californiana, mezzo sulista. Libertária e conservadora. Republicana, mas cheia de gays e berço do movimento hippie. E neste Zodíaco - em que acompanhamos a luta em desvendar o homem por trás das mensagens enigmáticas e dos assassinatos que chocaram São Francisco e regiões adjacentes durante o final de 1960 e toda a década seguinte - esta contradição toma cores viscerais. E esta é apenas uma das características que fazem o último trabalho do sempre superestimado David Fincher pairar acima da mediocridade do cinema americano feito hoje em dia.

Tendo como base os assassinatos de um vaidoso serial killer, o roteirista James Vanderbilt constrói uma atmosfera perfeita para externar as frustrações de uma sociedade sem identidade. Cenas de violência (mais sugeridas que propriamente explícitas) em uma reconstituição de época muito charmosa. O desconforto da redação do San Francisco Chronicle, aonde os telefones tocam sem parar. Deliciosas referências da época – anúncio do show dos Stones em Altamont, movimento hippie e exploração dos assasinatos do Zodíaco pela mídia. Além destas excelentes escolhas, a delicada construção dos personagens é outro mérito da produção. A insegurança de um jovem cartunista obcecado por uma descoberta. O policial casca grossa que luta contra as limitações estruturais e burocráticas da própria corporação policial. O talentoso jornalista que se perde no meio da avalanche da vida pessoal. E o contraditório assassino - um cara conservador, mas com uma vaidade que se satisfaz por meio da publicidade dos seus feitos. Zodíaco reúne com propriedade esses elementos e os joga na cara do espectador, amargurado por saber de antemão o final inconclusivo reservado ao esforço dos personagens.

O filme é bom, mas, na minha pobre opinião, tem um defeito que credito ao seu realizador maior – David Fincher. Zodíaco se leva a sério demais mesmo se valendo de uma estrutura cinematográfica sem grandes inovações. O filme é pesado para sessões regadas a pipoca, mas definitivamente está longe de ser um cult movie como alardeia a crítica impressionável. Mesmo diante de tanta pretensão, o diretor não cria um novo conceito de fazer cinema. A badalação apenas corrobora as palavras de Tony Bennet em “I left my heart in San Francisco”. Mais apropriado impossível.

Ponto Alto: O personagem Allen foi brindado com a interpretação bacanérrima de John Carroll Lynch.

Ponto Baixo: como o roteiro se baseou nos escritos de Robert Graysmith, tenho dúvidas sobre a fidelidade no retrato deste personagem.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

ñ acho q o sr Fincher seja superestimado, talvez por vc... desconsiderando o quarto medíocre do pânico, só fez filmão. esse, zodíaco, ainda ñ vi, mas vou ver... lembra em algo as versões anteriores?

9:23 AM  
Blogger Juarez Junior said...

Grande Fausto... Pois é meu amigo, mas não sou eu que superestimo o cara, mas a galera aí fora fica cantando que o cara é a mistura perfeita entre o mainstream e o alternativo. Sei não Fausto, gosto mais das brincadeiras repletas de referências de tarantino. Sobre os filmes do Zodíaco, nunca vi nada não... Só vi o Perseguidor Implacável; eu acho bacana só que reacionário demais. Abraçao meu camarada e gostei muito do seu blog. Vou colocar entre os favoritos! :-)

8:08 PM  

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