Ódio
Muitos torcem o nariz, mas é fato que Carlo Mossy é uma referência viva pra quem gosta de cinema brasileiro. Fez filme para todos os gostos, sempre com inovações técnicas (as fotografias de filme são maravilhosas) e esteve sempre à frente do seu tempo com muito sarcasmo. À frente da produtora Vydia, na direção ou como galã, ele fez, a seu modo, a diferença no cenário nacional. Arrisco a dizer que seja um dos nomes mais queridos do cinema “maldito” brasileiro. Não fica apenas nas pornochanchadas que atacavam o fetiche correto do brasileiro. Que garoto brasileiro não pensou em uma empregada ou manicure em noites mal dormidas na adolescência? Entretanto, filmes taciturnos e amargurados como Ódio também são marcos na filmografia de Mossy.
E é essa faceta cruel que estampa todos os frames do realmente “maldito” Ódio, realizado em 1977. A violência sem meio termo explicitada em um roteiro que de tão pessimista provoca angústia. Um filme de vingança que se Tarantino tivesse visto colocaria em par de igualdades com Thriller – A Cruel Picture. Assim como no filme sueco, o clima perverso é capturado por uma inspirada fotografia. No caso brasileiro, a pobreza produz retratos palpáveis.
A estória gira em torno do advogado e professor de direito penal Roberto (Mossy). No auge da carreira profissional, ele presencia e se torna o único sobrevivente da chacina de sua família. Quem lembra de Sob o Domínio do Medo do Peckinpah? Referência imediata. Faça assim, traga isso para um Brasil sujo e depravado. Os sinais de reconhecimento são vários. Algo tão realista que causa uma estranha identificação.
Roberto então abandona o emprego e a esposa e se isola em uma pensão pé-de-chinelo no subúrbio do Rio. Ele não sabe o quê fazer! Rememora o crime, fala pouco, mas a sugestão inevitável da vingança sorri para nosso herói. O sorriso vem de um malandro tipicamente carioca: Toninho (Sérgio Guterrez). Ele personifica o que Roberto mais detestava, um afronte a sua estável vida pré-chacinha. Muito mais parecido com os bandidos, Toninho é o reflexo torto do protagonista.
Dessa forma, Roberto parte para a vingança, mas é uma vingança pouco usual. Quer dizer, o justiceiro extirpa o que há de pior em cada bandido e eles acabam morrendo por conta disso. Um é covarde, outro oportunista, outro hedonista e outro, logicamente, ambicioso. Apesar do confronto com o bandidão Nestor (Celso Faria) ser o clímax do filme e pedir uma ação mais “intensa” do héroi, a morte mais incômoda cabe ao viciado Geraldão (Átila Iorio). O troco no canalha que molestou uma criança vai além das expectativas de Roberto. O justiceiro sente isso com o corpo, a vingança não o conforta. Ao contrário, o advogado se transformou em um dos assassinos de sua família.
Ódio tem problemas sim, com várias situações mal resolvidas e algumas atuações sofríveis. Com certeza não agrada a todos os paladares. Mesmo assim, se trata de uma obra indispensável ao apreciador do cinema nacional, justamente por ir na contramão das produções globais ou do esquemão cinema novo. Um filme que merece ser descoberto e que provocará sensações intensas em qualquer pessoa. Cinema contestador é isso, a menos que o espectador ache que o alerta antidrogas nas novelas é mera benevolência social.
Ponto Alto: a música que pontua todo o filme (Concerto Pour Une Voix).
Ponto Baixo: certas presenças como a de Diva (Marilisi) e do travesti Vanusa (Fernando Reski) são deixadas de lado em detrimentos de outras. Exemplo é a mulher do herói, Clarrise (Fátima Freire), que tem uma participação maior do que deveria.
PS: Esse post é dedicado a minha querida amiga Andréa Ormond. Só tive acesso ao filme por conta dessa menina fantástica! Aliás, peguei praticamente todas as referências da crítica que ela havia escrito no Estranho Encontro. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
E é essa faceta cruel que estampa todos os frames do realmente “maldito” Ódio, realizado em 1977. A violência sem meio termo explicitada em um roteiro que de tão pessimista provoca angústia. Um filme de vingança que se Tarantino tivesse visto colocaria em par de igualdades com Thriller – A Cruel Picture. Assim como no filme sueco, o clima perverso é capturado por uma inspirada fotografia. No caso brasileiro, a pobreza produz retratos palpáveis.
A estória gira em torno do advogado e professor de direito penal Roberto (Mossy). No auge da carreira profissional, ele presencia e se torna o único sobrevivente da chacina de sua família. Quem lembra de Sob o Domínio do Medo do Peckinpah? Referência imediata. Faça assim, traga isso para um Brasil sujo e depravado. Os sinais de reconhecimento são vários. Algo tão realista que causa uma estranha identificação.
Roberto então abandona o emprego e a esposa e se isola em uma pensão pé-de-chinelo no subúrbio do Rio. Ele não sabe o quê fazer! Rememora o crime, fala pouco, mas a sugestão inevitável da vingança sorri para nosso herói. O sorriso vem de um malandro tipicamente carioca: Toninho (Sérgio Guterrez). Ele personifica o que Roberto mais detestava, um afronte a sua estável vida pré-chacinha. Muito mais parecido com os bandidos, Toninho é o reflexo torto do protagonista.
Dessa forma, Roberto parte para a vingança, mas é uma vingança pouco usual. Quer dizer, o justiceiro extirpa o que há de pior em cada bandido e eles acabam morrendo por conta disso. Um é covarde, outro oportunista, outro hedonista e outro, logicamente, ambicioso. Apesar do confronto com o bandidão Nestor (Celso Faria) ser o clímax do filme e pedir uma ação mais “intensa” do héroi, a morte mais incômoda cabe ao viciado Geraldão (Átila Iorio). O troco no canalha que molestou uma criança vai além das expectativas de Roberto. O justiceiro sente isso com o corpo, a vingança não o conforta. Ao contrário, o advogado se transformou em um dos assassinos de sua família.
Ódio tem problemas sim, com várias situações mal resolvidas e algumas atuações sofríveis. Com certeza não agrada a todos os paladares. Mesmo assim, se trata de uma obra indispensável ao apreciador do cinema nacional, justamente por ir na contramão das produções globais ou do esquemão cinema novo. Um filme que merece ser descoberto e que provocará sensações intensas em qualquer pessoa. Cinema contestador é isso, a menos que o espectador ache que o alerta antidrogas nas novelas é mera benevolência social.
Ponto Alto: a música que pontua todo o filme (Concerto Pour Une Voix).
Ponto Baixo: certas presenças como a de Diva (Marilisi) e do travesti Vanusa (Fernando Reski) são deixadas de lado em detrimentos de outras. Exemplo é a mulher do herói, Clarrise (Fátima Freire), que tem uma participação maior do que deveria.
PS: Esse post é dedicado a minha querida amiga Andréa Ormond. Só tive acesso ao filme por conta dessa menina fantástica! Aliás, peguei praticamente todas as referências da crítica que ela havia escrito no Estranho Encontro. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
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