Águia na Cabeça
Paulo Thiago - aquele que recentemente fez o fraco O Vestido – realizou no começo dos anos 1980 um filme policial brasileiro bem acima da média. A trajetória de César (Nuno Leal Maia), braço direito do senador Ramos Guimarães (Jofre Soares), expõe o que há de mais vil e baixo em uma ascensão movida pela ambição sem limites. A estória é clichê de primeira e poderia ser contada em qualquer lugar do mundo, mas o toque nacional vem da forte presença religiosa (candomblé e catolicismo naquela mistura tipicamente brasileira) e do jogo do bicho.
O charme da produção está mesmo neste diferencial brasileiro. Neste carioquismo quase palpável. César, antes de virar o jogo, em conversa com a amante (Torloni, em boa atuação) lança o chavão de Copacabana e sua representação de status. O fascínio de Águia na Cabeça está sobretudo na brasilidade do jogo do bicho e de seus representantes. Um desfile de carisma entre os chefões da contravenção, Jece Valadão (Canedo), Hugo Carvana (Turco) e Maurício do Valle (Capitão). Vale mencionar as presenças ainda de Chico Diaz, como um matador de princípios, o sempre figura Wilson Grey, na pele do malandrão Helinho, e a bela Zezé Motta como Gracinha, a amante sensível e decidida de Valadão.
Boa parte da imprensa torceu o nariz, mas é caso de injustiça, pois estamos diante de um filme, no mínimo, repleto de estilo. Tudo bem que o cerne da trama realmente é convencional, há erros de continuidade que fazem corar Jess Franco e a direção de arte parece obra de um garoto do ensino fundamental (MEU DEUS, o que é aquele camarote do carnaval carioca?). Mas, acredite, isso é pouco perto de tanto estilo - Jece Valadão usando o paletó por cima dos ombros e as tiradas de Carvana, em atuação simplesmente genial. Não há como esquecer o “Puta que o pariu. Tão pensando que Ballantines é cachaça Pitu, porra...” e o “Quem matar o dragão primeiro, come o c... da princesa”. Sem falar que o filme jamais perde o ritmo e neste caso o fator entretenimento também cumpriu seu papel. A música-tema, interpretada por Fafá de Belém, fica martelando na cabeça. Ah, ia me esquecendo da homenagem sem meio-termo ao Boca de Ouro do Nelson Pereira dos Santos. O saldo, sem sombras de dúvida, é positivo.
Ponto Alto: a relação complexa entre os personagens de Valadão e Motta. A coisa poderia descambar para a paródia, mas a briga entre os dois em momento crucial da trama revela uma relação densa e extremamente sofisticada.
Ponto Baixo: não consigo simpatizar com Xuxa Lopes, que aqui faz o papel da filha do senador.
O charme da produção está mesmo neste diferencial brasileiro. Neste carioquismo quase palpável. César, antes de virar o jogo, em conversa com a amante (Torloni, em boa atuação) lança o chavão de Copacabana e sua representação de status. O fascínio de Águia na Cabeça está sobretudo na brasilidade do jogo do bicho e de seus representantes. Um desfile de carisma entre os chefões da contravenção, Jece Valadão (Canedo), Hugo Carvana (Turco) e Maurício do Valle (Capitão). Vale mencionar as presenças ainda de Chico Diaz, como um matador de princípios, o sempre figura Wilson Grey, na pele do malandrão Helinho, e a bela Zezé Motta como Gracinha, a amante sensível e decidida de Valadão.
Boa parte da imprensa torceu o nariz, mas é caso de injustiça, pois estamos diante de um filme, no mínimo, repleto de estilo. Tudo bem que o cerne da trama realmente é convencional, há erros de continuidade que fazem corar Jess Franco e a direção de arte parece obra de um garoto do ensino fundamental (MEU DEUS, o que é aquele camarote do carnaval carioca?). Mas, acredite, isso é pouco perto de tanto estilo - Jece Valadão usando o paletó por cima dos ombros e as tiradas de Carvana, em atuação simplesmente genial. Não há como esquecer o “Puta que o pariu. Tão pensando que Ballantines é cachaça Pitu, porra...” e o “Quem matar o dragão primeiro, come o c... da princesa”. Sem falar que o filme jamais perde o ritmo e neste caso o fator entretenimento também cumpriu seu papel. A música-tema, interpretada por Fafá de Belém, fica martelando na cabeça. Ah, ia me esquecendo da homenagem sem meio-termo ao Boca de Ouro do Nelson Pereira dos Santos. O saldo, sem sombras de dúvida, é positivo.
Ponto Alto: a relação complexa entre os personagens de Valadão e Motta. A coisa poderia descambar para a paródia, mas a briga entre os dois em momento crucial da trama revela uma relação densa e extremamente sofisticada.
Ponto Baixo: não consigo simpatizar com Xuxa Lopes, que aqui faz o papel da filha do senador.
1 Comments:
13.10.2006
Cara, não sei se chamo você Juarez, Amaral ou xará (também sou Júnior),
parabéns pelo blog. Excelente texto, muito bem escrito, informativo sem ser formal, pra falar a verdade, tem uma fluência de conversa de bar, muito gostoso de ler. E no meio disso, tem as pitadas de humor seco e sarcástico - ou seja, inteligente - de quem sempre gostou e nunca perde uma oportunidade de dar aquela sacaneada.
Ainda não vi o filme do post acima, mas resolvi comentar aqui porque este é o link mais recente que consigo abrir no meu trabalho - quando tento abrir a página principal o filtro da PGR nega o acesso. Por enquanto estou lendo os posts dos filmes a que já assisti, mas ainda não me sinto à vontade pra comentar, pois preciso revê-los pra não cometer nenhuma leviandade. Duas coisas ferram com minha memória sobre os detalhes dos filmes, o genocídio de neurônios que cometi dos catorze aos vinte e um anos (você sabe bem do que estou falando) e meu mau hábito, que tenho esforçado-me pra corrigir, de ir ao cinema acompanhado de duas ou três cervas camufladas dentro de um saco de lanchonete - e isto, além do mais, quase sempre obriga-me a cometer o sacrilégio de sair da sala pra ir ao banheiro.
Se você quiser, de repente podemos mutuar alguns DVDs, também tenha uma pequena, mas crescente, "DVDteca". Também tenho um livro sobre uma oficina de roteiros do Gabriel Garcia Marquez que eu gostaria de lhe emprestar - não sei se é a sua praia escrever roteiros, mas eu tenho pensado muito sobre este assunto, inclusive tenho anotado algumas idéias pra desenvolver melhor quando o tempo permitir. Neste livro fala-se justamente sobre a experiência de escrever roteiros em grupo, em uma escola de cinema que o Garcia Marques ajudou a fundar e, até hoje, a manter em Cuba, a Escola de Cinema de Santo Antonio de los Baños.
Então, é isso aí, irmão, grande abraço e parabéns novamente, qualquer coisa entre em contato.
Joaquim Kbção Júnior
jsmj21@uol.com.br
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