26 de março de 2008

Um Homem, Uma Mulher


Quem manja um cineminha francês adora dizer que ama Truffaut e Eric Rhomer e odeia Claude Lelouch. A turma malha dizendo que ele faz o cinema francês mais comercial que alguém poderia fazer e que não é, digamos, politizado como seus amigos franceses. Preconceito bobo, pois o cara tem um senso estético apurado, adora carros velozes, tem um refinado gosto musical e adora mulheres bonitas. E para saudar este mestre - recentemente homenageado em uma mostra que rodou o Brasil e pela febre na internet depois que a bacaninha banda de rock Snow Patrol usou o curta metragem C’Était un Rendez-Vous como clipe da música Open Your Eyes - vamos falar do seu filme mais famoso: Um Homem, Uma Mulher. A produção criou praticamente todos os clichês dos filmes de romance. O que dizer de casal correndo pela praia, acompanhado de crianças e um cachorro, tudo ritmado por uma agradável bossa nova e embalado por uma bela fotografia em preto e branco?

Realmente Lelouch gostava de estórias convencionais e aqui não foi diferente – apesar da montagem ter sido bem inventiva. Casal na faixa dos 30 anos se encontra ao deixar os filhos pequenos no internato durante o inverno. Ele ( Jean-Louis Trintignant), um piloto de corridas; ela (Anouk Aimée), uma roteirista amargurada pela morte traumática do marido e que não sabe se vai estar pronta para engatar um novo relacionamento. Feita as apresentações, tome cenas açucaradas, ressentimento, lembranças doces e amargas - tudo envernizado em um acabamento estético de muito bom gosto (e olha que tinha tudo para ser extremamente brega). O final, com a perseguição ao trem, é coisa fina. O filme ganhou Oscar de filme Estrangeiro, Palma de Ouro em Cannes e se transformou em referência obrigatória. Aqui vai uma dica, jogue fora o DVD de Doce Novembro e começe uma bela noite ao lado da amada com os carinhos entre Trintignant e Aimé sob a batuta afiada do mestre Lelouch. Não tem erro.

Ponto Alto: não há um só fotograma em que Anouk Aimée não transpire charme. A balzaquiana perfeita.

Ponto Baixo: A personagem de Aimée seria perfeita, mas a obsessão pelo marido falecido passa do limite do aceitável. O ápice está representado a seguir - “Por que você me disse que seu marido havido morrido?”. A resposta é constrangedoramente piegas - “Ele morreu, mas para mim ainda não”.