Do Inferno
A história de Jack, o estripador, em uma versão diferente a partir de uma premissa de história em quadrinhos (o gibi de Alan Moore é ainda mais cruel). Londres do século XIX retratada magnificamente, um protagonista carismático e o controle na mão de dois talentosos gêmeos negros de Michigan. Trata-se de Do Inferno, filme protagonizado por Johnny Depp e dirigido pelos irmãos Hughes. Os gêmeos estavam com a moral em alta depois de filmes como Dead Presidents e o documentário American PIMP. Até curtiram de celebridades depois de uma briga com o rapper Tupac Shakur. Quer dizer, produtores do alto escalão resolveram entregar uma versão agressiva da história de Jack nas mãos de dois politizados diretores negros. Decisão acertada, ao menos para quem gosta de Cinema, com C maiúsculo!
Apesar da narrativa envolvente, da boa edição e das interpretações irretocáveis, o que mais chama a atenção em Do Inferno é a belíssima fotografia e a reconstituição de época. As cenas externas foram feitas em Praga, República Tcheca, lugar perfeito – em termos de luz, cor e sombras – para uma reconstituição fidedigna do bairro barra-pesada de Whitechapel, onde Jack fazia suas vítimas.
Outra escolha acertada dos diretores foi criar um clima incessante de pavor. Um perigo sempre presente e urgente, tudo em meio ao caos da vida miserável de personagens angustiados e assustados. As prostitutas, biscates, viciados, loucos, cirurgiões e demais figuras apresentadas na produção vivem literalmente no inferno. Perspectiva nenhuma, pra ninguém em nenhuma parte.Todos estão desesperados, inclusive os tranqüilos médicos que fazem de seres humanos cobaias em experimentos desagradáveis.É impossível não sentir compaixão diante da situação enfrentada pelos personagens.
Apesar de as concessões com o intuito de tornarem mais acessíveis algumas figuras - principalmente a turma de prostitutas de Mary Kelly (Heather Graham) - comprometerem o charme da proposta original. Johnny Depp brilha novamente e destila seu estilo cool na pele do inspetor Fred Abberline. O cara é amargurado e tenta afogar a dor da perda da mulher e da filha (tudo bem, esse é mesmo um baita clichê) por meio do vício em ópio. O lance é que o detetive é muito inteligente e, além disso, nas bad trips por causa dos efeitos alucinógenos da papoula, acaba tendo visões dos crimes.
A teoria cartunesca para os mórbidos assassinatos de Whitechapel é a de que o príncipe Phillipe ao se envolver com uma humilde doceira estava colocando em risco toda a respeitabilidade da coroa inglesa. O pior é que um rebento já havia surgido do inusitado romance. Solução? Matar quem sabia do romance do príncipe com a plebéia. O principal alvo, um grupo de prostitutas desordeiras do bairro. Como o trabalho deveria ser feito por um especialista, nada melhor que utilizar as vítimas para um detalhado estudo anatômico. Tudo, embrulhado em um exercício estilístico inovador e ousado. Só isso já bastava para colocar Do Inferno como uma produção hollywoodiana bem acima da mediocridade habitual. Mas tem mais.
Existe até mensagem política. Os irmãos Hughes disseram que apesar dos personagens serem todos brancos eles eram os excluídos da época e viviam a margem de uma sociedade ainda mais excludente que a atual. Isso, inevitavelmente, aproxima os personagens dos negros. Boa explicação conceitual que pode funcionar como um atrativo a mais. Entretanto, o quê mais impressiona em Do Inferno é mesmo o visual irretocável. É isso que faz a diferença na simbologia do vulto de um homem de cartola e casaca desaparecendo em meio às ruas molhadas e enevoadas da capital inglesa do século XIX. O maior charme está nesta cara de produção independente falseando um belo exemplar do cinemão. Vale a pena!
Ponto Alto: a sutileza que Depp emprega ao personagem na “leitura” das cenas do crime.
Ponto Baixo: O romance mal desenvolvido e forçado entre Graham e Depp. Simplesmente não existe química.
Apesar da narrativa envolvente, da boa edição e das interpretações irretocáveis, o que mais chama a atenção em Do Inferno é a belíssima fotografia e a reconstituição de época. As cenas externas foram feitas em Praga, República Tcheca, lugar perfeito – em termos de luz, cor e sombras – para uma reconstituição fidedigna do bairro barra-pesada de Whitechapel, onde Jack fazia suas vítimas.
Outra escolha acertada dos diretores foi criar um clima incessante de pavor. Um perigo sempre presente e urgente, tudo em meio ao caos da vida miserável de personagens angustiados e assustados. As prostitutas, biscates, viciados, loucos, cirurgiões e demais figuras apresentadas na produção vivem literalmente no inferno. Perspectiva nenhuma, pra ninguém em nenhuma parte.Todos estão desesperados, inclusive os tranqüilos médicos que fazem de seres humanos cobaias em experimentos desagradáveis.É impossível não sentir compaixão diante da situação enfrentada pelos personagens.
Apesar de as concessões com o intuito de tornarem mais acessíveis algumas figuras - principalmente a turma de prostitutas de Mary Kelly (Heather Graham) - comprometerem o charme da proposta original. Johnny Depp brilha novamente e destila seu estilo cool na pele do inspetor Fred Abberline. O cara é amargurado e tenta afogar a dor da perda da mulher e da filha (tudo bem, esse é mesmo um baita clichê) por meio do vício em ópio. O lance é que o detetive é muito inteligente e, além disso, nas bad trips por causa dos efeitos alucinógenos da papoula, acaba tendo visões dos crimes.
A teoria cartunesca para os mórbidos assassinatos de Whitechapel é a de que o príncipe Phillipe ao se envolver com uma humilde doceira estava colocando em risco toda a respeitabilidade da coroa inglesa. O pior é que um rebento já havia surgido do inusitado romance. Solução? Matar quem sabia do romance do príncipe com a plebéia. O principal alvo, um grupo de prostitutas desordeiras do bairro. Como o trabalho deveria ser feito por um especialista, nada melhor que utilizar as vítimas para um detalhado estudo anatômico. Tudo, embrulhado em um exercício estilístico inovador e ousado. Só isso já bastava para colocar Do Inferno como uma produção hollywoodiana bem acima da mediocridade habitual. Mas tem mais.
Existe até mensagem política. Os irmãos Hughes disseram que apesar dos personagens serem todos brancos eles eram os excluídos da época e viviam a margem de uma sociedade ainda mais excludente que a atual. Isso, inevitavelmente, aproxima os personagens dos negros. Boa explicação conceitual que pode funcionar como um atrativo a mais. Entretanto, o quê mais impressiona em Do Inferno é mesmo o visual irretocável. É isso que faz a diferença na simbologia do vulto de um homem de cartola e casaca desaparecendo em meio às ruas molhadas e enevoadas da capital inglesa do século XIX. O maior charme está nesta cara de produção independente falseando um belo exemplar do cinemão. Vale a pena!
Ponto Alto: a sutileza que Depp emprega ao personagem na “leitura” das cenas do crime.
Ponto Baixo: O romance mal desenvolvido e forçado entre Graham e Depp. Simplesmente não existe química.
6 Comments:
Fala "Alma Gêmea",hahahahaha...Pois é, sou fã de Johnny Depp. Vou analisar esse filme depois.
Apesar de não ter muito haver com esse filme, gostaria de lhe fazer uma pergunta. Você como cinéfilo, acha mais difícil criar um bom filme(com história inovadora) ou fazer uma boa continuação, de um filme que foi sucesso e aclamado pelos críticos?(pergunto isso porque ainda não vi uma continuação melhor do que o primeiro filme)
Um abraço!!!
Fala rapá... Legal vc ter bom gosto (rs), mas dispenso a alcunha de Alma Gêmea! hehehe
Sobre a pergunta de uma idéia original render um filme melhor. Acho que na maioria das vezes sim, mas há casos de filmes como Poderoso Chefão II e até a epópeia nerd O Império Contra-ataca. Muita gente acha esses filmes melhores que o original.
Há também casos de filmes que foram lançados em partes como Kill Bill e, obviamente, Senhor dos Anéis. Mas, neste caso, não podem ser considerados continuações. Ao menos, esta é a minha opinião.
Gostei desse filme, mas depois que li DO INFERNO, vi que o filme fica a milhas de distância da obra-prima em quadrinhos de Alan Moore.
Grande Ailton. Pois é, apenas dei uma passada de olho no gibi, mas não cheguei a ler. Sabia que era bom, mas pelo seu comentário, fiquei ainda mais ansioso.
Pois não deixe de conferir, Juarez. Eu considero a melhor HQ que eu já li na vida. É um estudo sobre Jack, o Estripador. Bem detalhado e chocante.
Crítica muito boa, o filme é realmente muito bom. E como eu já sabia, o ponto alto só podia ser o Johnny Depp mesmo...
A continuação de Jogos Mortais é tão boa quanto o original...
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