11 de março de 2006

O Crime do Padre Amaro


Que filme superestimado é esse tal de O Crime do Padre Amaro? Levou milhares de mexicanos ao cinema e recebeu até indicação ao Oscar e ao Globo de Ouro como filme estrangeiro. Alguém poderia explicar porque essa novela mexicana dirigida com mão frouxa por um tal de Carlos Carrera foi tão exaltada. A explicação óbvia para esse sucesso comercial deve-se a polêmica de cartas marcadas que levantou em um país tradicionalmente católico (a publicidade gratuita de grupos católicos mexicanos que eram contra a exibição do filme). Tal qual ocorreu - em menor proporção, obviamente - quando Dogma do Kevin Smith iria estrear nos cinemas de Brasília. Na ocasião, um deputado católico quis proibir a exibição. Não conseguiu e apenas trouxe publicidade a uma produção que, em condições normais, passaria despercebida. Mesmo caso deste O Crime do Padre Amaro.

Realmente, qualquer filmeco com interesse comercial que finja ir contra tradicionais setores da sociedade ou tenha um verniz artístico – neste caso, a obra de Eça de Queiroz - serve para ludibriar um público impressionável por natureza. As pessoas acham que viram um filme autoral; um legítimo representante da cultura latina. Pura balela, a produção caprichada só comprova o interesse comercial de uma obra ridícula, que desperdiça uma idéia interessante.

É certo que a boa premissa na qual padre Amaro (Gael García Bernal), recém-chegado a uma cidade interiorana e tradicional, tem um caso com a bela devota Amélia (Ana Cláudia Talacon) não é novidade pra ninguém. Assim, o roteirista Vicente Leñero resolveu focar nos podres clericais. Há padres ambiciosos, ardilosos, bêbedos, ligados a narcotraficantes e a guerrilheiros e, é claro, sacerdotes que são amantes insaciáveis. Afinal trata-se de um filme latino e o mundo sabe que nós, latinos, temos o sexo como prioridade máxima das nossas vidas. A corrupção na igreja e a agressão descontextualizada a símbolos religiosos fazem a denúncia do filme algo simplesmente banal e, por isso mesmo, pouco crível.

A originalidade e o atrevimento do romance original foram simplesmente desperdiçados em uma trama pouco envolvente. O filme não desperta real interesse em nenhum momento. Sem falar que a direção de Carlos Carrera é insegura, isso para dizer o mínimo. O melhor exemplo dessa falta de traquejo está no cerne da estória: o envolvimento do casal principal. O romance é tão mal estruturado que acaba soando falso. Acompanhamos as subtramas envolvendo as tramóias sacerdotais e sem mais nem menos o casal está apaixonado e choramingando juras de amor eterno.

A culpa, o remorso do sacerdote diante de uma situação tão delicada, não são explorados com a devida intensidade. O padre não acredita na castidade e diz que só fez o voto porque foi obrigado e pronto, não se fala mais nisso. No livro, o mote é justamente esse. E o pior é que a proposta de expor as mazelas da igreja jamais parece realmente satisfatória. São falsetes pouco atrevidos, como se a igreja tivesse motivos nobres por trás de tudo. O superior de Amaro, por exemplo, padre Benito (Sancho Gracia) mantém relações com narcotraficantes para financiar a construção de um hospital para os necessitados. Nossa, que banho de realidade!

Nessa linha, o pior é ver o roteirista e o diretor enterrarem as possibilidades de um personagem com tanto potencial como o padre Natalio (Damián Alcazar). Socialista por convicção, este é acusado pelas autoridades clericais de fazer uso da Teologia da Libertação e lutar ao lado de guerrilheiros. Bacana, né? O problema é que a única função relevante de Natálio no filme é aconselhar Amaro em um momento crucial da trama. Desperdício, que simplesmente ridiculariza toda a forte tradição esquerdista dos latinos americanos. Só a título de comparação, vale lembrar que em E Sua Mãe Também, um dos personagens tem uma irmã ligada a movimentos sociais e a sátira de Cuarón (feita em não mais que dois minutos) aos socialistas latinos é bem mais eficaz.

Existem ainda outras situações mal desenvolvidas, como a de um pobre homem que padre Amaro ajuda quando o ônibus em que viajam é assaltado, logo no início do filme. O senhor aparece no final da trama, mas ninguém sabe como e por quê. Vamos dizer que ele fecha um ciclo na vida de padre Amaro, pois este entrou na cidade dizendo que sua intenção era servir a Deus, mas se corrompe de tal maneira, que logo se questiona sobre a veracidade de sua fé. Legal até aí. O problema é que a última cena do filme reafirma essa perdição ao concluir que a igreja continua com toda a pompa, mantida pela hipocrisia e aparência. O ciclo não se fecha naquele momento e, por isso, o personagem do camponês não tem razão de existir. Fraco como cinema e ingenuamente maniqueísta como denúncia, O Crime do Padre Amaro é totalmente dispensável.

Ponto Alto: a direção de arte. Destaque para a composição de Los Reyes, cidade onde se desenvolve a trama.

Ponto Baixo: a interpretação de Ana Cláudia Talacon é discreta demais.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Esse filme é inacreditavelmente ruim!!! Nem mesmo o ótimo ator Gael Garcia escapa.

No entanto, parece q. o diretor tem o filme curioso sobre bruxas.

11:01 AM  
Blogger Juarez Junior said...

Grande Eduardo Aguilar... será que esse filme sobre bruxas é Feitiço (Un Enbrujo)? Não vi, mas pode ser uma chance de redenção do nosso amigo Carlos Carrera.
O filme é anterior ao Crime do Padre Amaro... às vezes, sem a pressão de um blockbuster mexicano, o cara ficou mais à vontade e entregou coisa boa!

9:17 AM  
Anonymous Anônimo said...

Cara, não vi esse filme(mas já ouvi falar muito dele) ,porém ,vou assistir e analisar a partir da ótica crítica colocada aqui.

5:06 PM  
Blogger Juarez Junior said...

Fala Wesley! Olha o cara, cheio de formalidades.
Assista ao filme, mas por sua conta e risco. rs
Abraço!

8:51 AM  
Anonymous Anônimo said...

nossa gente esse filme e muito bacana gostei muito vc6 tm q assistir nao percaum um abraço bjs
ass: Thamara

10:49 PM  

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