A Montanha do Deus Canibal
Uma idéia ingênua e maniqueísta, concebida de maneira divertida. Esse é o cerne de qualquer filme B que tenha dado certo. O ciclo explotation italiano, realizado entre os anos 1970 e meados da década de 80, usou este princípio como nenhum outro segmento cinematográfico. No diferencial, desfiles de imagens violentas, corpos nus e cenas de sexo com energia documental. Seguindo essa receita, A Montanha de Deus Canibal é uma obra singular. No caso específico de corpos nus, simplesmente inigualável: o espectador é brindado com a nudez discreta e madura de ninguém mais, ninguém menos que Ursula Andress.
Isso mesmo, a primeira bond-girl, figurinha fácil em eleições de mulheres mais belas do mundo, apresenta sua nudez madura em duas breves oportunidades. Primeiro, em uma momento voyeur na aldeia de nativos hospitaleiros e no clímax da trama, quando os incautos aventureiros caem nas mãos dos perigosos canibais (homens das cavernas, pra ser mais exato). Musa decadente no auge dos seus 42 anos tirando a roupa em produção B italiana. Isso sim é a magia do cinema.
Como todo filme canibal, a turminha da civilização vai arrumar uma desculpa qualquer para se embrenhar por uma floresta inóspita. E os motivos variam de acordo com a criatividade dos produtores; pode ser a realização de um documentário (Cannibal Holocaust), material para tese de pós-graduação (Cannibal Ferox) ou achar o marido desaparecido. O último caso é o mote deste A Montanha do Deus Canibal, que foi realizado pelo artesão Sergio Martino com competência ímpar em 1978. Neste, a bela Dr. Susan Stevenson (Andress) e seu irmão Arthur Weiss (Antonio Marsina) recrutam o recluso antropólogo Edward Foster (Stacy Keach) para encontrarem o marido dela, desaparecido durante uma expedição na Nova Guiné. A suspeita é que o sr. Stevenson esteja na ilha de Roka, mais precisamente na temida montanha Ra-Rami, suposto abrigo de uma tribo canibal.
A trupe desembarca com alguns nativos feiosos fazendo às vezes de guias em uma densa floresta. Primeiro, o desfile de maldades com animais. E neste campo, A Montanha do Deus Canibal foi bem contundente. Durante toda a projeção, vemos pequenos bichinhos sendo presas fáceis de perigosos predadores. Soou forçado. Voltando ao filme, segue-se à tradição, os pobres guias são as primeiras vítimas humanas. Os coitados caem em armadilhas sangrentas e o trio “branco” sobrevive da emboscada realizada por um nativo mascarado, pois são ajudados pelo aventureiro Manolo (Cláudio Cassinelli). Cassinelli foi aquele ator que morreu em 1985 devido à queda de um helicóptero durante as filmagens de um filme do mesmo Sérgio Martino. Uma pena.
Manolo vive em uma tribo hospitaleira que faz festa para receber os novos visitantes. Na festa, as mulheres fazem uma massa branca e a fermentam com cuspe. Explotation bom é assim, tudo pode ser usado para causar mal estar no espectador. Engraçado é constatar que Edward acaba encontrando seu pai em meios aos nativos. Isso mesmo, o pai do antropólogo largou tudo para poder viver junto às comunidades que aprendeu a valorizar. Lógica realmente não é o forte da produção. No meio tempo, um affair inusitado surge entre Susan e Manolo. Até o chatíssimo Arthur faz às vezes com uma bela nativa, mas a menina é assassinada na hora do bem-bom, em um atentado de um nativo mascarado. Na perseguição ao assassino, Edward é ferido na perna. Devido à confusão, os três forasteiros e Manolo têm de deixar a tribo e partir em uma jornada rumo a montanha Ra-Rami. Esta seqüência remete ao clássico Amargo Pesadelo, com direito a quebra de canoa em quedas d’água e parceiro ferido atrapalhando a travessia. Uma reviravolta por conta de ambição e, enfim, o ataque dos homens da caverna.
Um espectador afoito pode ser irritar pelo fato dos canibais só aparecerem mesmo no final da trama. No entanto, não há motivo para preocupação, o show de horrores a partir daí é um dos motivos, juntamente com Ursula Andress, que perpetuaram a fama da produção. Destaque para o visual interessante dos nativos e a perfeita ambientação em uma caverna gigantesca, escura e fúnebre. Neste ambiente irretocável, Suzan é adornada e posta como objeto de adoração da tribo. Pausa para a famosa cena da orgia com direito a uma estranha cena de zoofilia com um imenso porco selvagem. Reza a lenda que Martino não queria a inclusão destas cenas, mas elas entraram por ingerência dos produtores. Realmente soam forçadas, mesmo para um legítimo representante do explotation. Há ainda a engraçada morte do nativo-anão e cenas de castração e canibalismo (obviamente!) completando o menu. O final aberto encerra o espetáculo.
À primeira vista, parece que A Montanha do Deus Canibal é ruim; e realmente tinha tudo para ser uma bomba no melhor estilo Bruno Mattei. Mas não, Martino é esperto e entregou uma aventura divertidíssima. O segredo está na edição ágil em ritmo de aventura e na aposta acertada em personagens carismáticos. Apesar dos excessos, a produção acerta em quase todos os segmentos propostos. O filme é engraçado em alguns momentos, erótico em outros, violento em algumas passagens, causa apreensão e angústia em certas cenas etc. Esta aventura, que traz uma bond-girl de peito aberto (literalmente), é exemplo fundamental do bom cinema extremo europeu dos anos 70. Diversão sem meios termos.
Ponto Alto: a presença inabalável de Stacy Keach como Dr. Edward Fosters e seus traumas por experiências “antropológicas” anteriores. Carisma e canastrice em proporções exatas.
Ponto Baixo: Surge um galho artificial no fotograma e depois a cobra aparece atacando o macaquinho, que luta pra se ver livre do predador. A câmera cruel registra tudo. Seria mais um episódio rotineiro no mundo animal da Nova Guiné, caso aquele “galho artificial” no fotograma não fosse um recurso pra esconder a madeira que empurra o macaquinho para o fim extremamente cruel. Recurso horroroso e reprovável.
Isso mesmo, a primeira bond-girl, figurinha fácil em eleições de mulheres mais belas do mundo, apresenta sua nudez madura em duas breves oportunidades. Primeiro, em uma momento voyeur na aldeia de nativos hospitaleiros e no clímax da trama, quando os incautos aventureiros caem nas mãos dos perigosos canibais (homens das cavernas, pra ser mais exato). Musa decadente no auge dos seus 42 anos tirando a roupa em produção B italiana. Isso sim é a magia do cinema.
Como todo filme canibal, a turminha da civilização vai arrumar uma desculpa qualquer para se embrenhar por uma floresta inóspita. E os motivos variam de acordo com a criatividade dos produtores; pode ser a realização de um documentário (Cannibal Holocaust), material para tese de pós-graduação (Cannibal Ferox) ou achar o marido desaparecido. O último caso é o mote deste A Montanha do Deus Canibal, que foi realizado pelo artesão Sergio Martino com competência ímpar em 1978. Neste, a bela Dr. Susan Stevenson (Andress) e seu irmão Arthur Weiss (Antonio Marsina) recrutam o recluso antropólogo Edward Foster (Stacy Keach) para encontrarem o marido dela, desaparecido durante uma expedição na Nova Guiné. A suspeita é que o sr. Stevenson esteja na ilha de Roka, mais precisamente na temida montanha Ra-Rami, suposto abrigo de uma tribo canibal.
A trupe desembarca com alguns nativos feiosos fazendo às vezes de guias em uma densa floresta. Primeiro, o desfile de maldades com animais. E neste campo, A Montanha do Deus Canibal foi bem contundente. Durante toda a projeção, vemos pequenos bichinhos sendo presas fáceis de perigosos predadores. Soou forçado. Voltando ao filme, segue-se à tradição, os pobres guias são as primeiras vítimas humanas. Os coitados caem em armadilhas sangrentas e o trio “branco” sobrevive da emboscada realizada por um nativo mascarado, pois são ajudados pelo aventureiro Manolo (Cláudio Cassinelli). Cassinelli foi aquele ator que morreu em 1985 devido à queda de um helicóptero durante as filmagens de um filme do mesmo Sérgio Martino. Uma pena.
Manolo vive em uma tribo hospitaleira que faz festa para receber os novos visitantes. Na festa, as mulheres fazem uma massa branca e a fermentam com cuspe. Explotation bom é assim, tudo pode ser usado para causar mal estar no espectador. Engraçado é constatar que Edward acaba encontrando seu pai em meios aos nativos. Isso mesmo, o pai do antropólogo largou tudo para poder viver junto às comunidades que aprendeu a valorizar. Lógica realmente não é o forte da produção. No meio tempo, um affair inusitado surge entre Susan e Manolo. Até o chatíssimo Arthur faz às vezes com uma bela nativa, mas a menina é assassinada na hora do bem-bom, em um atentado de um nativo mascarado. Na perseguição ao assassino, Edward é ferido na perna. Devido à confusão, os três forasteiros e Manolo têm de deixar a tribo e partir em uma jornada rumo a montanha Ra-Rami. Esta seqüência remete ao clássico Amargo Pesadelo, com direito a quebra de canoa em quedas d’água e parceiro ferido atrapalhando a travessia. Uma reviravolta por conta de ambição e, enfim, o ataque dos homens da caverna.
Um espectador afoito pode ser irritar pelo fato dos canibais só aparecerem mesmo no final da trama. No entanto, não há motivo para preocupação, o show de horrores a partir daí é um dos motivos, juntamente com Ursula Andress, que perpetuaram a fama da produção. Destaque para o visual interessante dos nativos e a perfeita ambientação em uma caverna gigantesca, escura e fúnebre. Neste ambiente irretocável, Suzan é adornada e posta como objeto de adoração da tribo. Pausa para a famosa cena da orgia com direito a uma estranha cena de zoofilia com um imenso porco selvagem. Reza a lenda que Martino não queria a inclusão destas cenas, mas elas entraram por ingerência dos produtores. Realmente soam forçadas, mesmo para um legítimo representante do explotation. Há ainda a engraçada morte do nativo-anão e cenas de castração e canibalismo (obviamente!) completando o menu. O final aberto encerra o espetáculo.
À primeira vista, parece que A Montanha do Deus Canibal é ruim; e realmente tinha tudo para ser uma bomba no melhor estilo Bruno Mattei. Mas não, Martino é esperto e entregou uma aventura divertidíssima. O segredo está na edição ágil em ritmo de aventura e na aposta acertada em personagens carismáticos. Apesar dos excessos, a produção acerta em quase todos os segmentos propostos. O filme é engraçado em alguns momentos, erótico em outros, violento em algumas passagens, causa apreensão e angústia em certas cenas etc. Esta aventura, que traz uma bond-girl de peito aberto (literalmente), é exemplo fundamental do bom cinema extremo europeu dos anos 70. Diversão sem meios termos.
Ponto Alto: a presença inabalável de Stacy Keach como Dr. Edward Fosters e seus traumas por experiências “antropológicas” anteriores. Carisma e canastrice em proporções exatas.
Ponto Baixo: Surge um galho artificial no fotograma e depois a cobra aparece atacando o macaquinho, que luta pra se ver livre do predador. A câmera cruel registra tudo. Seria mais um episódio rotineiro no mundo animal da Nova Guiné, caso aquele “galho artificial” no fotograma não fosse um recurso pra esconder a madeira que empurra o macaquinho para o fim extremamente cruel. Recurso horroroso e reprovável.
8 Comments:
Nossa! Quantos filmes vc vê por semana? Bj.
Olá Graziele. Alguns filme eu apenas revejo pra fazer o blog, tem algumas críticas que estão encaminhadas tb... Sou fominha, mas nem tanto! hihihi
bj.
Acho que é muita coincidência mesmo! Vc fez Jornalismo na UnB? Fizemos Introdução à Antropologia, né?
Como vc descobriu? Eu não estava fazendo idéia!
Beijos.
Antes de qq. coisa, devo supor q. vc. seguiu minha sugestão, e certamente fiquei muito honrado com isto. Sobre o 'post', apesar de continuar sem conhecer o filme, o texto está ótimo e aumentou minha curiosidade. Acima de tudo, está muito divertido, adorei a piada dos guias, é óbvio q. em relação ao macaquinho, um dado REAL, fica a sensação de mal estar, mas confesso q. após (ou antes?) abstrair o lado cruel, é difícil não achar graça no contexto desse tipo de produção, quer dizer, o fulano frustrado pq. a cobra (ou o macaco) não cumpre o seu destino.
Pois é, Eduardo! A impressão que vc tem deste caso do macaquinho é a mesma que eu tenho. Esses excessos eram comuns nos explotations, mas acho que este caso especificamente é emblemático.
Sobre a sua sugestão, me encorajou bastante sim. Já queria escrever sobre o filme, vc deu a deixa! Valeu!
assisti esse filme quando criança, nem preciso dizer que as cenas de nudez de Ursulla Andress me impressionaram muito, hehe. Vale dar uma conferida nesse filme. O grande problema é achar essa raridade. Prabéns pelo Blog.
A Diva do cinema em seu melhor papel nota 10 ... Ursula Andress vc foi com certeza uma Deusa
Quem mentira Úrsula Andress tinha 41 anos quando foi produzido este filme , pois o filme foi lançado em agosto de 1978 e ela faz aniversário em março um filme para ser lançado é depois de um ano de produzido
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