18 de fevereiro de 2010

Conspiração Tequila


Genial traficante e talentoso policial dividindo o amor de uma sofisticada hostess na Califórnia dos anos 80, recheada por aquela fauna de cabelo amarelo, olhos claros e pele bronzeada. Um filme policial inteligente, no qual valem mais os diálogos e intrigas que os disparos das pistolas. A trama é bem cuidada, afinal o diretor Robert Towne é mais conhecido como roteirista. Um clichê aqui e outro ali fazem parte do menu e um filme com Mel Gibson, Michelle Pfeiffer e Kurt Russell não deve ter saído barato e precisava de retorno. Mas relaxe, pois são clichês simpáticos e aceitáveis como os amigos de infância em lados opostos, o policial superior que é pra lá de burro e o cavalheirismo irretocável do bandido etc.


Mel Gibson não está nada mal no papel de um traficante em “regeneração” que tem um último negócio para depois quietar o facho. Já nosso mestre Kurt Russell destila aquela canastrice cool na pele de um policial esperto e sacana. Longe do brilho de Viver e Morrer em Los Angeles (adoro a "surpresa" desse filme), mesmo assim Conspiração Tequila representa bem os policiais oitentistas hollywoodianos e merece uma reprise.


Ponto Alto: Michelle Pfeiffer desfila seu inegável charme de mulher miúda pelas rodas sofisticadas de Los Angeles e até nos brinda com umas ceninhas mais ousadas.


Ponto Baixo: o personagem de Raul Julia é importante, mas não é explorado como deveria.

15 de fevereiro de 2010

Avatar


O visual é inovador e uma estrutura narrativa que deixa muito a desejar. Fato, mas o lance não é que o visual seja simplesmente inovador, é algo simplesmente extraordinário. Foge do padrão de qualquer coisa já realizada no cinema. Diante de algo tão genial, o que é um roteirinho clichê, cheio de falhas e mal amarrado? Besteira. Relevamos isso em prol do espetáculo que é ver Avatar. E sabe o lance do roteiro? Quem nasceu entre o final de década de 1970 e começo da década de 1980 vai sentir nostalgia com tantas referências a um projeto anterior do cineasta, Aliens, o Resgate. O executivo ambicioso, a militar masculinizada e destemida, os robôs, Sigourney Weaver. E, o principal – todas as possibilidades em se explorar um “planeta” novo.

Cameron usa um complexo megalomaníaco e infatilóide para levar à frente seus projetos “ridículos”. Quem em sã consciência imaginaria um futuro com uma guerra entre máquinas e humanos e no qual uma viagem no tempo selaria o destino da humanidade. Cameron teve essa idéia imbecil e genial e fez Exterminador do Futuro lá em 1984. Agora, em 2009, concebe um mundo místico no qual os valentes habitantes são gigantes humanóides de cor azul com características felinas. Porra, um moleque de dez anos que pensasse em algo do tipo seria ridicularizado na sala de aula. O cara leva a frente uma tosqueira assim e faz a maior bilheteria da história do cinema. Fazer o quê? Sentar e aplaudir.

Concordo que apesar dos louros, do ponto de vista narrativo e cinematográfico, Avatar teria de ser esnobado em prêmios como o Globo de Ouro e o Oscar, por exemplo. Mas falo de um universo no qual Gwyneth Paltrow venceu Fernanda Montenegro; e, sinceramente, o quê é Hollywood se não uma indústria que visa ao lucro? E, por isso, Cameron manda e desmanda. Nem um cara talentoso e paparicado como Spielberg teve o sucesso comercial do cara.

Li várias críticas sobre o filme e, em uma delas, alguém escreveu que o roteiro de Avatar está longe da genialidade de um Star Wars, por exemplo. Isso é sacanagem e má vontade com Cameron. A trama do Star Wars uma coisa tão singela que chega a ser constrangedora. Entretanto, concordo que tenha criado um conceito de fazer cinema que, até então, não tinha sido imaginado. E, dessa forma, abriu as portas para novas experiências. Avatar fez no início do século XXI, o mesmo que o filme de George Lucas, em 1970. Numa época em que quase tudo já tinha sido imaginado, Cameron abriu novamente o leque de possibilidades. Falei tudo isso, mas odeio essa coisa de filmes 3D, ficção-científica, mensagem maniqueísta, romance sem noção. No caso de Avatar, entendo, compreendo e, em parte, compartilho do fenômeno.

Ponto Alto: como sou um cara old school, vou fazer referência ao Coronel linha dura Miles Quaritch, interpretado por Stephen Lang. Dizer que a primeira rodada é por minha conta depois de liderar um ataque bem sucedido é o tipo de cinema que eu gosto.

Ponto Baixo: fico no clichê e digo que odeio obviedades narrativas como o guerreiro ultra-excepcional em um mundo que não conhece, luta do bem contra o mal, sexo entre ETs...