22 de maio de 2008

O Franco-Atirador


Este filme é bom pra CARALHO. Desculpe a grosseria inicial, mas este pequeno épico intimista assinado por Michael Cimino me deixou eufórico. Um filme pesado, mas muito bem conduzido e que propõe uma visão antibelicista, no mínimo, engenhosa. Sem falar em um elenco de causar comoção em qualquer pessoa. Pois bem, reza a lenda que após o sucesso do filme (laureado de todas as formas) Cimino se lançou em um projeto que simplesmente quebrou a United Artist – o faroeste cabeça Portal do Paraíso. Hoje gente considera cult, mas não posso emitir qualquer juízo de valor, pois nunca o vi. Mas o assunto aqui é outro e que parece bem mais unânime.

O roteiro é de autoria do próprio Cimino em parceria com Deric Washburn, e, segundo consta, foi inspirado em escritos de um veterano alemão da 1° Guerra Mundial. Em O Franco-Atirador, realizado em 1978, temos um grupo de amigos descendentes de russos (ou ucranianos, isso não fica bem certo), moradores de uma pequena cidade na Pensilvânia e dividem o tempo entre o trabalho em uma siderúrgica, a bebedeira e a caça de veados nas belas montanhas geladas que cercam o lugar. A turma é formada pelos irmão Michael (Robert De Niro) e Nick (Christopher Walken) e pelos amigos Steven (John Savage), Stanley (John Cazale), John (George Dzundza) e Axel (Chuck Aspegren). Michael, Steven e Nick estão de viagem marcada para defender o país na Guerra do Vietnã. Porém, antes da guerra, há o casamento de Steven com cerimônia realizada em uma igreja ortodoxa e comemorada em uma festa pra lá de animada – são seqüências de uma plasticidade incrível. No meio da bebedeira, os três futuros combatentes demonstram a ansiedade e a incerteza gerada pelo desafio que está por vir. Completando o bafão, Linda (Meryl Streep), namorada de Nick, e cortejada pelo cunhado Michael. Sei que parece putaria barata, mas a coisa vai bem além do desejo carnal.

Na guerra, os três são capturados e obrigados a “brincar” de roleta russa para divertimento dos inimigos. Um trauma que cada um encara de maneira diferente. A roleta russa (um tiro só pra matar a caça) é o que vai pontuar toda a trama daí por diante. Uma guerra que deixou seqüelas não só para quem a enfrentou. Poderia soar piegas, mas não é isso o que acontece. Não sei se a reação mais habitual, mas eu realmente me emocionei - sorri nos momentos felizes (o encontro de Michael com os amigos depois da guerra) e os olhos marejaram nas cenas mais intensas.

Visualmente o filme também é um assombro – as montanhas da Pensilvânia ou as próprias cenas internas são retratadas com uma sensibilidade assombrosa. A música faz aquele estilo épico marcando época – exatamente o que aconteceu. Sem falar da ambigüidade sobre o conceito de nação e as mais variadas alegorias para a roleta russa; interpretações variadas e difusas mas todas enaltecendo virtudes nobres. O filme decididamente não é fácil, mas merece toda a atenção. Indispensável.

Ponto Alto: o sensível personagem John, interpretado por George Dzundza. Mesmo diante de um elenco de monstros (alguns só vieram a se consagrar a posteriori) e em um papel menor, ele se sobressai.

Ponto Baixo: as cenas das batalhas na Guerra ficam aquém do restante da obra.

3 de maio de 2008

Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

Numa comparação ousada, atrevo-me a dizer que Tim Burton é uma espécie de Fellini da nova geração. Ao invés da estrutura onírica do primeiro, o nosso amigo é soturno e tem preferência por uma atmosfera gótica. Assim como o italiano, Burton criou seu universo nos filmes – todos os personagens são pálidos e o tom que prevalece é o cinza. E adiante nesta comparação inusitada, digamos que o Marcello Mastroianni do americano seja Johnny Depp. Não há dúvida sobre a eficiência da dupla que já provou a fina sintonia em filmes como Ed Wood, Edwards – Mãos de Tesoura e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. Burton diz que adora trabalhar com o astro, pois ele não tem medo de se colocar nas mais inusitadas situações; sem falar que o aspecto camaleônico do ator é fundamental para o sucesso da parceria.

Pois feita esta introdução, vamos falar do violento musical Sweeney Todd que mais uma vez confirma o talento da dupla. Trata-se de uma fábula politicamente incorreta ambientada na Era Vitoriana em que um pai de família que teve a vida destruída por um corrupto juiz volta à cidade natal (a nebulosa Londres) em busca de vingança. E, para isso, o rapaz usa o talento de saber manusear como poucos uma lâmina de barbear. Detalhe – ele se hospeda na sobreloja da senhora Lovett (Helena Bonham Carter). Lovett tem uma loja de tortas que vai muito mal das pernas, mas acaba usando a carne das pessoas mortas pelo inquilino para dar uma virada nos negócios. Fechando a história – a filha Johanna (Jayne Wisener) que teve de ser abandonada por Sweeney e viver com seu algoz, o juiz Turpin (Alan Rickman), é cortejada pelo jovem Anthony (Jamie Campbell Bower). O vilão Turpin, então, usa de seu fiel Bedel (o sempre irretocável Timothy Spall) para infernizar a vida do jovem Anthony.

O filme tem um ritmo muito agradável e é extremamente convencional em sua narrativa. Não há aquelas invencionices que já viraram clichês de filmes moderninhos. Mas há um estilo interessante na edição. Ressalta-se ainda a violência nas cenas em que o protagonista degola suas vítimas, sangue aos borbotões. Sem falar que a atmosfera sombria – design de produção a cargo de Dantte Ferretti - e um Johnny Depp à vontade completam o tom acertado do filme. O final não se encaixa propriamente no contexto de fábula, mas cabe perfeitamente no universo idealizado por Tim Burton. Mais um exemplo do bom cinema comercial. Aliás, não posso ir embora sem falar que o cineasta tem a sua Giullieta Masina, estamos falando de Helena Bonham Carter. Ela também faz seu show.

Ponto Alto: o divertido barbeiro fake italiano feito por Sacha Baron Cohen.

Ponto Baixo: realmente os excessivos números musicais enchem o saco – em um certo momento fica ridículo ver Anthony suspirar pela meiga Johanna.