29 de março de 2008

Maré, Nossa História de Amor


Meu camarada que está na equipe de divulgação do filme pediu uma força. O filme vai estrear no dia 04 de abril no circuito Rio-São Paulo. A coisa promete; como instigação, só conto a presença de Lúcia Murat à frente do projeto. Estou torcendo pra chegar logo em Brasília.

26 de março de 2008

Um Homem, Uma Mulher


Quem manja um cineminha francês adora dizer que ama Truffaut e Eric Rhomer e odeia Claude Lelouch. A turma malha dizendo que ele faz o cinema francês mais comercial que alguém poderia fazer e que não é, digamos, politizado como seus amigos franceses. Preconceito bobo, pois o cara tem um senso estético apurado, adora carros velozes, tem um refinado gosto musical e adora mulheres bonitas. E para saudar este mestre - recentemente homenageado em uma mostra que rodou o Brasil e pela febre na internet depois que a bacaninha banda de rock Snow Patrol usou o curta metragem C’Était un Rendez-Vous como clipe da música Open Your Eyes - vamos falar do seu filme mais famoso: Um Homem, Uma Mulher. A produção criou praticamente todos os clichês dos filmes de romance. O que dizer de casal correndo pela praia, acompanhado de crianças e um cachorro, tudo ritmado por uma agradável bossa nova e embalado por uma bela fotografia em preto e branco?

Realmente Lelouch gostava de estórias convencionais e aqui não foi diferente – apesar da montagem ter sido bem inventiva. Casal na faixa dos 30 anos se encontra ao deixar os filhos pequenos no internato durante o inverno. Ele ( Jean-Louis Trintignant), um piloto de corridas; ela (Anouk Aimée), uma roteirista amargurada pela morte traumática do marido e que não sabe se vai estar pronta para engatar um novo relacionamento. Feita as apresentações, tome cenas açucaradas, ressentimento, lembranças doces e amargas - tudo envernizado em um acabamento estético de muito bom gosto (e olha que tinha tudo para ser extremamente brega). O final, com a perseguição ao trem, é coisa fina. O filme ganhou Oscar de filme Estrangeiro, Palma de Ouro em Cannes e se transformou em referência obrigatória. Aqui vai uma dica, jogue fora o DVD de Doce Novembro e começe uma bela noite ao lado da amada com os carinhos entre Trintignant e Aimé sob a batuta afiada do mestre Lelouch. Não tem erro.

Ponto Alto: não há um só fotograma em que Anouk Aimée não transpire charme. A balzaquiana perfeita.

Ponto Baixo: A personagem de Aimée seria perfeita, mas a obsessão pelo marido falecido passa do limite do aceitável. O ápice está representado a seguir - “Por que você me disse que seu marido havido morrido?”. A resposta é constrangedoramente piegas - “Ele morreu, mas para mim ainda não”.

15 de março de 2008

May - Obsessão Assassina

Só me arrisquei com este terror com pinta de gótico, pois o diretor Lucky McKee foi um dos únicos (acho que o único) “novatos” chamados a compor a respeitada turma dos Masters of Horror. Porra, o cara chamou a atenção com este May, então vamos ver o quê realmente é isso. E o filme é surpreendentemente bom. Visual moderno, trama retrô, protagonista angustiantemente estranha e climinha mórbido sempre na ascendente que culmina em um desfecho bacana.

A menina May tem pais estranhos e é rejeitada pelos coleguinhas do colégio por um problema oftalmológico. Ela vive no seu mundo e sua singular amiga é uma boneca guardada em uma caixa de vidro. May fica adulta (vale citar a interpretação magistral de Angela Bettis), mas continua vivendo isoladamente – trabalha como ajudante de um veterinário estrangeiro (Ken Davitian, o produtor Azamat de Borat) e se apaixona pelo estudante de cinema Adam (Jeremy Sisto). Ela também se envolve afetivamente com Polly (Anna Faris), sua doce colega de trabalho A carência e a insegurança de May, obviamente, funcionam como catalisadores da efemeridade dos seus relacionamentos. E aí, tome mais angústia e rejeição e como a garota não tem parâmetros comportamentais bem definidos, além de um certo fascínio por mutilação, a explosão violenta é questão de tempo. ..

Tudo bem, May é mesmo bullying no estilo Carrie na veia, mas, a exemplo do clássico de Brian De Palma, sob uma leitura mais intimista e bem trabalhada que propriamente violenta. Além disso, o filme tem um estilo legal e não lança mão de homenagens cults, as citações são mesmo clássicas, como o Frankstein tatuado no braço de um punk... A coisa é século XXI e, em um mundo repleto de facilidades, o isolamento da menina fica ainda mais intenso e constrangedor. A última cena propõe uma leitura piegas da proposta do filme, mas não macula a boa impressão causada por May. Foi amor à primeira vista.

Ponto Alto: a cena das crianças cegas engatinhando sobre cacos de vidro é um achado. Uma inovação que merece ficar nos anais do cinema extremo.

Ponto Baixo: o tal de Jeremy Sisto é insosso demais. Tudo bem que May era estranha, mas merecia um objeto de afeto melhorzinho.