5 de maio de 2009

O Homem que Amava as Mulheres


Como diz uma das “suas mulheres”, Bertrand Morane (Charles Denner) parece ter cara de passarinho. E é com um jeitão de garoto carente, sem qualquer traço do convencional carisma sexual, o nosso cara de passarinho, que vive para e pelas mulheres, arranca suspiros e se envolve em paixões avassaladoras. Apenas as mais espertas conseguem sair com menos arranhões das garras de um conquistador tão sensível. Na verdade, a trajetória do amante insaciável de Truffaut, uma espécie de vampiro da alma feminina, começa com o funeral deste, no qual apenas mulheres acompanham o cortejo. Depois, somos levados a acompanhar, por meio de uma autobiografia de qualidade duvidosa – escrita pelo próprio personagem, a eterna busca de expiação de um homem que corrompe e se deixar iludir pela complexidade do universo feminino. E Truffaut realmente faz as coisas fluírem na elegância do idioma francês com enquadramentos versáteis e uma construção narrativa louvável.

Diferente de outros conquistadores, como o sarcástico Alfie de Michael Caine, que tem como combustível de suas conquistas o narcisismo masculino, Bertrand Morane traz uma bagagem muito mais complexa. E neste “enquadramento” da narrativa, o ator Charles Denner parece nunca se entregar por completo. Sempre meio ausente, o protagonista deixa as garotas direcionarem a relação e depois, a frustração. Extremamente simples em sua condução, o filme segue a trajetória da obsessão pela complexidade de alma feminina, em um viés mais convencional que o proposto por cineastas como Bergman e Khouri, mas não menos rico e interessante. Um estudo do comportamento humano e uma aula de cinema.

Ponto Alto: As mulheres, se não belas, têm um estilo blasé irresistível.

Ponto Baixo: toda a energia do personagem ter uma justificativa convencional, como sugerido em certa parte da trama, incomoda mesmo aos menos sensíveis. Preferi encarar como uma brincadeira.

The Wizard of Gore


Herschell Gordon Lewis, com toda a sua tosquice, é realmente um visionário do cinema extremo. Como uma espécie de Jess Franco do novo continente, o cineasta norte-americano compensava os recursos paupérrimos com uma criatividade emocionante. E neste The Wizard of Gore temos um exemplo palpável desta invencionice. O clima nostálgico e a violência gráfica ainda são capazes de angustiar os “escaldados” espectadores modernos. A canastrice do mágico Montag (Ray Sager), a trama cartunesca, as insinuações sexuais e a violência explícita formam uma sugestiva mistura de filmes ao estilo da produtora inglesa Hammer com produções explotations.

Na trama, um mágico consegue fazer truques sangrentos com voluntárias da platéia que depois acabam morrendo com as mesmas seqüelas dos truques apresentados no palco, o que levanta a curiosidade de um casal de jornalistas. Na verdade, Sherry (Judy Cler) quer levar o mágico ao seu programa de televisão, enquanto Jack (Wayne Ratay) é um repórter esportivo que desconfia da violência do mágico desde o início. No caso de The Wizard of Gore, Herschell Gordon parece um hippie (em tons pastéis, é claro) fazendo aquele cinema maniqueísta, bem ao gosto da máquina republicana americana. E o melhor é que, com exceção da inegável ação do tempo em certas passagens, o resultado é pra lá de satisfatório.

Ponto Alto: a resolução da trama justifica um pouco os truques de vai-e-vem nos momentos dos sangrentos truques. Sem falar que é uma solução, no mínimo, interessante.

Ponto Baixo: a improvável cena final é uma das coisas mais ridículas que já tive a oportunidade de acompanhar.