22 de novembro de 2007

A Tale of Two Sisters


Sons e imagens primorosos em um terror oriental old school. Na verdade, A Tale of Two Sisters parece mais um drama intimista europeu sobre o delicado tema da relação familiar. Depois de uma temporada fora, duas irmãs voltam a viver com a madrasta e o pai em uma bela casa de campo. Situações mal resolvidas no passado vêm à tona. As meninas agridem a madrasta que parece ter uma culpinha mesmo no cartório. E naquela de ter algo no passado desconhecido e apenas sugerido ao espectador vamos sendo absorvidos por uma atmosfera onírica assustadora. A tensão vai crescendo aos poucos e aparições fantasmagóricas vão arrepiar a espinha. Segredos são construídos e descontruídos até a resolução da trama.

O legal neste tipo de terror oriental está em envolver o espectador com os personagens e seus dramas. Daí vem a comoção quando ocorrem as assombrações e as mortes. Desde a década de 1980, o horror americano não constrói esta estrutura narrativa da melhor forma possível. Olha que sou fã de slashers americanos, mas confesso que o envolvimento é mesmo muito superficial. Contraditoriamente, o exemplo maior deste “estilo” está em um clássico do terror setentista americano – O Exorcista. A angústia do padre interpretado por Jason Miller, o sofrimento de Ellen Burstyn ao ver a filha passar por um processo tão devastador importam mais que o terror. E é por isso que O Exorcista é tão assustador, ainda nos dias de hoje. E Kim Ji –Um (diretor de A Tale of Two Sisters) usou esta fórmula de maneira brilhante, sem falar que esteticamente seu filme é belíssimo. Vale a pena conferir. A propósito, lançaram o filme em DVD aqui no Brasil com o título de MEDO. Então tá fácil. Cuidado que já tem remake pronto.

Ponto Alto: o elenco está irretocável. A madrasta interpretada por Yeom Jung-a é bonita e interpreta sua personagem com ambigüidade na medida certa.

Ponto Baixo: o final traz uma resolução meio forçada e, de certa forma, convencional.

11 de novembro de 2007

O Fim e o Princípio


Sou fã de Eduardo Coutinho. O cara tem uma técnica genuína e um acabamento estético ímpar em seus documentários. Merece sim toda a badalação em torno de seu nome. O Fim e o Princípio apenas corrobora seu talento. No entanto, a repetição do tema sertanejo forte, que não é novidade desde a época de Euclides da Cunha, e a falta de um direcionamento para a produção fazem deste uma obra menor – ao menos, na minha opinião - na trajetória de Coutinho.

Essa falta de direcionamento é explicitada no primeiro minuto do filme, quando o cineasta confirma que vai filmar sobre alguma coisa no sertão nordestino. E a intenção é que a coisa flua no decorrer das gravações. Uma câmara na mão e uma idéia na cabeça (olha que original?!) Ele pára, então, em uma cidade do interior da Paraíba a fim de descobrir algum agente da Pastoral da Criança que conheça a região para lhe dar um direcionamento. Encontra a desenrolada Rosa, mas no primeiro contato com pessoas de uma vila rural mais afastada percebe que o filme deve virar apenas um canal para o sertanejo apresentar queixas contra as condições insatisfatórias do lugar, do trabalho... Solução para fugir do panfletário – filmar as pessoas do vilarejo (Araçás) da simpática guia.

Aí é aquele exercício de estilo primoroso do cineasta no retrato dos anciãos sertanejos. Os rostos marcados por rugas e as mãos calejadas da lavoura não têm cultura, mas sabem muito da vida. E apesar de apontar um canhão para a pessoa e logicamente tirar um pouco da naturalidade do cotidiano, Coutinho sabe deixar o entrevistado o mais relaxado e natural possível. O cineasta se anula quando é possível e proporciona aqueles imensos e constrangedores silêncios nas explanações dos paraibanos. Na questão de se anular, destaque para a cena em que alguém pergunta se o cineasta acredita em Deus.

O respeito às pessoas é imenso e não há aquela forçada de tornar as cenas emocionantes ou de manter o distanciamento maravilhado e babaca no retrato de vidas tão diferentes. O filme é visceral, seco – sempre tive a impressão de que Coutinho nos deixa aquele amargo na boca que só se tem ao ler Guimarães Rosa. Agora, é fato que ao focar tão somente o rosto de uma pessoa a imagem causa estranhamento ao próprio retratado. E o filme brinca com isso, como na seqüência em que uma senhora vê uma foto dela com um cachimbo. O Fim e o Princípio seria a obra definitiva de muita gente, mas em relação a Coutinho vou buscar em Cabra Marcado para Morrer a essência da sua obra.

Ponto Alto: a fotografia é arrebatadora.

Ponto Fraco: pouco mais de uma hora já estava de bom tamanho, mas filmar todas as pessoas praticamente duas vezes deixa o filme arrastado demais. Fica chato!