29 de junho de 2006

I Spit on Your Grave


Simplesmente um dos filmes mais aterradores (a palavra é essa) que tive a oportunidade de ver na vida. Repleto de cenas cruéis, um marco do cinema marginal americano. A estória da escritora modernosa de Nova Iorque que procura inspiração em um sossegado vilarejo e logo descobre o terror nas mãos de quatro rednecks vagabundos é um assombro em seu grafismo. A violência é muito explícita, não há qualquer tipo de reserva. O espectador só é poupado de closes genitais. O resto é válido.

Jennifer (Camile Keaton), nossa heroína, sofre o abuso do estupro, pois os caipiras acham que a menina se insinuava demais por andar de biquíni. Assim, quatro filhas da puta resolvem dar uma aula de machismo à garota da cidade. Ela é pega na floresta enquanto descansava no barco e é surrada, humilhada... Depois de muita sacanagem, ela pensa que ficou livre, mas a bagunça continua em sua casa. Tome pancada, corte no rosto. Enfim, o freak Mathhew (Richard Pace) recebe a incumbência de dar fim a agonia da menina com uma punhalada no peito. Apesar de ter feito tudo com os amigos, o cara, logicamente, não consegue matá-la. Ela se recupera e arma a vingança contra os pilantras. E a vingança tem toques de sadismo impressionantes.

Teria Jenniffer respaldo para matar? Essa discussão que perpassa uma série de filmecos policiais também ganha força aqui. Na minha opinião esse lance de justiça pelas próprias mãos apenas aproxima a vítima de seu algoz. E isso não é nada bom, um retrocesso! Debates políticos à parte, I Spit on Your Grave jogou no ostracismo toda sua equipe, ou você se lembra de outro filme de Meir Zachi? Isso inegavelmente ajudou a criar aquela áurea meio maldita, digamos assim, da produção. Filme excepcional, mas para públicos específicos.

Ponto Alto – a morte de Johnny (Eron Tabor), líder do grupo de pilantras, é a mais engenhosa e dolorosa que já vi em um filme. Dá arrepios só de pensar! Pra quem não sabe – ele é mutilado no pênis e sangra até morrer! A imagem pós-morte do cara fica na cabeça.

Ponto Baixo – parece besteira, mas na morte de um personagem no final da trama, conseguimos vislumbrar perfeitamente o truque no momento em que um machado entra nas costas. Isso tira o espectador do estado de torpor em que estava até aquele momento. Detalhe é verdade, mas que, definitivamente, não passa despercebido!

11 de junho de 2006

O Pássaro das Plumas de Cristal


Em seu primeiro trabalho, Dario Argento já dava mostras da sua genialidade. Realizado em 1970, O Pássaro das Plumas de Cristal é considerado o precursor derradeiro do giallo - gênero que foi o berço dos slahers movies tão comuns na década de 1970 e 1980. Neste legítimo thriller, Argento usou e abusou das mais diversas referências hitchcockianas e ao estilo do mestre apresentou um filme extremamente simples em sua concepção, mas uma verdadeira pérola em sua realização.

Impossível não se identificar com o escritor boa-praça americano Sam Dalmas (Tony Musante), que está há dois anos na Itália em busca de inspiração. Ao presenciar uma tentativa de assassinato em uma galeria de arte, ele faz às vezes de detetive e, obviamente, acaba sendo perseguido pelo assassino. O cara expõe a namorada (Suzy Kendall), compromete sua viagem de volta aos EUA e passa por situações de arrepiar mesmo o mais durão dos detetives. Mesmo assim não desiste da empreitada, sem nunca perde o bom humor ou abandonar sua indefectível jaqueta de couro.

Aliás, o bom humor é tão bem empregado que simplesmente complementa o clima do filme. Olha que sinceramente não sou fã de toque de humor em obras violentas, mas neste caso simplesmente não soa forçado. Os assassinatos são encenados e editados magistralmente Há ainda a galeria de personagens fantásticos, como o gigolô que fica repetindo "so long" e o pintor maluco. Enfim, tudo parece uma deliciosa e imperdível brincadeira de muito bom gosto. O jogo de transparência (com espelhos, marca de Argento) também não poderia faltar. Ia me esquecendo do desfile de mulheres bonitas, como prega o bom cinema italiano. Precisa mais?

Ponto Alto: a referência explícita em tom de homenagem ao A Dama Escarlate.

Ponto Baixo: apesar de um dos charmes do filme estar na sua simplicidade, a reviravolta para revelação da identidade do assassino é óbvia demais. Talvez não seja culpa de Argento, mas das imitações que vieram depois... Mesmo assim, fica o registro.

3 de junho de 2006

Supervixens


Russ Meyer não chega a ser unanimidade nem no nicho alternativo americano. Mas, se fosse brasileiro, haveria, no mínimo, uma dezena de funks cariocas em sua homenagem. Pois o que esse homem gostava de mulher boazuda não está no gibi. Os seus filmes são meros pretextos para exibir garotas bem dotadas (ou supers, como ele as apelidou) em poses picantes. A fotografia é aquela coisa amarela e chapada que denuncia a falta de recurso (vale ressaltar que nos filmes em preto e branco, como Faster, Pussycat! Kill! Kill!, a fotografia é usada com muita propriedade) e as tramas são bobas e repletas de personagens caricatos. Achou ruim?! Eu não. Os filmes são uma delícia. Muito bem estruturados e com situações tão absurdas que é impossível conter o sorriso em várias seqüências.

No caso de Supervixens, acompanhamos as trapalhadas de Clint Ramsey (Charles Pitts), frentista em fuga por estar sendo injustamente acusado do assassinato de sua ex-namorada, a bela Angel Turner (Shari Eubank). Mané por excelência, ele, inexplicavelmente, faz o limpa por onde passa. Acaba seduzido por todas, desde uma garota que lhe oferece carona na companhia do namorado nada ciumento, passando por uma Super, que mora com o marido idoso em uma fazenda até uma bela negra que gosta de velocidade. Meio por acaso, encontra a paz com Vixen (novamente Shari Eubank) - menina que vive solitária em um posto de gasolina no meio do nada. Então, o policial Harry Sledge (Charles Napier), verdadeiro assassino de Angel, encontra Clint. O duelo é no auge da montanha, com direito a várias aparições eróticas. A mistura de ingenuidade e sensualidade ficou na medida certa. Enfim, a comparação com a nossa pornochanchada nunca pareceu tão apropriada. Um conselho: abaixe a guarda e divirta-se com as popozudas de Meyer.

Ponto Alto: Charles Napier dá um show no papel do agente Harry Sledger. Legítimo genérico de Redford, ele destila canastrice no gestual e no inconfundível sotaque sulista do personagem. A turma vai lembrar dele como o chefe-vilão de Rambo 2.

Ponto Baixo: entendo a anarquia da proposta, mas a violência é forte em seus momentos. Chega a fugir do contexto da trama. Vide a morte de Super Angel.