3 de abril de 2010

O Clube do Filme


Não esperava muita coisa como literatura do livro do canadense David Gilmour, mas ao menos informações sobre cinema e algumas dicas interessantes. Não foi isso que encontrei. Do ponto de vista narrativo, o óbvio: deixa muito a desejar – e olha que não são problemas de tradução e nada deste tipo. A prosa é ruim mesmo. Até aí, tudo conforme o esperado, mas em relação ao cinema é que as frustrações tomaram conta. Nada de relevante ou inventivo é apresentado; uma dica aqui e ali, mas algo muito superficial. O tal David Gilmour por ter entrevistado o conterrâneo David Cronenberg uma pá de vezes (e outras afetividades óbvias) tem o cineasta como “o cara”. Até gosto dos filmes dele, mas dica profunda sobre relação pai/filhos dada em entrevista é demais. Detalhe – Cronenberg é citado várias vezes, mas seus filmes não são comentados em nenhuma oportunidade.

Entretanto, o pior de tudo é o tal personagem-filho Jesse, mimado de marca maior que não sabe lidar com qualquer tipo de rejeição. Inacreditável a antipatia gerada pelo garoto e ainda é pintado como a redenção do rap. Um rapper branco canadense que tomou leito tipo A durante a vida inteira e escreve sobre suas frustrações amorosas pra lá de convencionais. Perdoe-os Mano Brown. Em uma entrevista para a divulgação do livro, no entanto, Jesse disse que parou de fazer hip-hop, pois o estilo vai desaparecer em breve e agora se dedica a projetos cinematográficos, pois os filmes são eternos. Prevejo um futuro sombrio. Mais uma alfinetada: a forma como as mulheres são retratadas no livro também não é lá um exemplo de cavalheirismo. Ao menos, ler O Clube do Filme me serviu para rever um guilty pleasure adorável, O Padrasto, que é citado em certo momento. Aos Gilmour, recomendo Içami Tiba ou algo do gênero.