28 de fevereiro de 2007

Cocksucker Blues


The Rolling Stones. O nome causa comoção em todos os amantes do bom Rock n’ Roll e não por acaso está na ativa há mais de quarenta anos. Sempre rivalizando com a genialidade dos The Beatles em descobrir quem é a MAIOR de todos os tempos. Pela extravagante e escancarada vida extra-palco e por ter uma musicalidade mais negra e swingada que a turma de Lennon, fecho com os Stones. E é sobre uma turnê da banda realizada nos EUA em 1972, regada a muito, mas muito sexo e drogas, que trata este Cocksucker Blues, dirigido pelo fotógrafo Robert Frank.

Os Stones já eram monstros sagrados (o Exile on Main Streeet tinha acabado de sair do forno, sem falar que o inigualável Sticky Fingers já estava consolidado) e a badalação em cima da rapaziada era de assustar. Legal ver como as drogas deixaram Keith Richards praticamente banguela, algumas excentricidades de Jagger e a discrição de Watts. E Bill Wyman? Bem, ele tava no bolinho. O documentário retrata momentos antológicos: a orgia no avião com o saxofonista Bobby Keys fazendo horrores, a sinuca com Muddy Waters, as bagunças nos hotéis, o romance ao som de Love Me Tender, a participação de várias personalidades americanas, as cenas de drogas... Enfim, a intimidade deste super-humanos que praticamente personificaram no mundo da música o star system idealizado pelo intelectual francês Edgar Morin para os astros hollywoodianos.

Entretanto, o resultado é bem ruim. O filme é chato demais, mesmo para um fã da banda. Não há um narrador, apenas passagens narrativas (geralmente, feitas por um radialista) tentando pontuar o espectador; muitos personagens – o staff de bajuladores era imenso. Em suma, poucos números musicais e tantos defeitos que verdadeiramente não há como ficar satisfeito. Vale como registro histórico (que os garotos usavam drogas e faziam farra todo mundo sabia, mas VER isso é assustador/deslumbrante), mas está muito aquém dos Rolling Stones.

Ponto Alto: os idealizadores realmente mostraram a fundo a intimidade da banda. O cinegrafista era íntimo da turma.

Ponto Baixo: a edição deixa o filme morrento demais. Difícil agüentar até o fim.

20 de fevereiro de 2007

Coffy


Em Jackie Brown, meu favorito do Tarantino, homenagem aos anos 1970. A referência passa pelas músicas, figurino e, claro, pelo elenco - destaque para Pam Grier. Em Jackie Brown, nos auges dos seus 48 anos, Grier foi um assombro; imagine a garota nos anos 1970 em um daqueles filmes baratos e deliciosos sobre vingança, cheios de sexo e violência. A parceria com o bacana Jack Hill rendeu clássicos explotations como Coffy e Foxy Brown. Vamos falar de Coffy, realizado em 1973, no qual ela destila sensualidade no papel da enfermeira que faz justiça pelas próprias mãos aos traficantes que deixaram sua jovem irmã em estado vegetativo.

O filme começa com a protagonista se fazendo passar por uma garota de vida fácil para estourar um PIMP com um tiro de espingarda na cabeça. A coisa é braba e sobra pra um vigarista que faz às vezes de motorista do cafetão. Depois conhecemos a rotina da doce enfermeira no hospital; nem de longe lembra a destemida justiceira. Há o envolvimento de Coffy com o congressista Howard (Booker Bradshawn) - ativista negro que depois descobrimos ser um canalha - e o quase-affair com o bondoso policial Carter (William Elliott).

Em busca do sucesso em seu mirabolante plano de vingança, ela vai fazer às vezes de uma das garotas do impagável e espalhafatoso cafetão George (Robert Doqui, o sargento de Robocop, lembra?!). George tem uma morte cruel, mas não sem antes estabelecer a relação da justiceira com o mafioso racista Arturo Vitroni (Allan Arbus) e seu inseparável capanga Omar (ninguém mais ninguém menos que Sid Haig). Apesar do virtuosismo, nossa heroína é humana e, em um raro momento de fraqueza, quase põe tudo a perder, mas rapidamente volta a si e encerra o filme de maneira honrosa andando de cabeça erguida pela praia.

Coffy está repleto de defeitos, mas tem uma edição ágil e personagens carismáticos. Isso sem dizer que aquele estilo setentista que tanto cultuamos está ali em todos os detalhes. Enfim, o filme não é um primor, mas, levando-se em conta apenas o fator entretenimento, estamos diante de uma obra-prima. Quanto a Grier no auge, só nos resta dizer que é extraordinariamente linda: alta, corpão deslumbrante, pele de chocolate, cabelão black – a diva definitiva do blaxplotation. Tarantino sabe mesmo das coisas.

Ponto Alto: trilha sonora de blaxplotation é sempre um show à parte. Neste caso, não foi diferente.

Ponto Baixo: a cena das garotas brigando na festa de George. Elas ficam seminuas durante a luta. Tragicômico! Jack Hill adora essas coisas, mas eu, particularmente, não compartilho deste fetiche.

13 de fevereiro de 2007

O Pagamento Final


Martin Scorsese disse que, no cinema, os bandidos são mais interessantes que os mocinhos. Sua filmografia apenas corrobora essa teoria. Brian de Palma deve concordar com Scorsese, pois depois de um violentíssimo, radical, cafona e maravilhoso Scarface, enveredou novamente pelo universo da marginalidade. Estamos falando de O Pagamento Final, um dos filmes mais mal compreendidos do diretor. Recebi uma bronca por ter economizado nos elogios quando escrevi a crítica da horrenda continuação do original, mas aqui vem a minha redenção. O roteiro de David Koepp, baseado em personagem criado pelo magistrado Edwin Torres, realmente não traz grandes reviravoltas e o diferencial é mesmo o estilo inspirado. E quem não gosta de cinema pipoca com cara de produção de baixo orçamento? Não sei vocês, mas eu adoro!

Anos 70, o porto-riquenho Carlitos Brigante (Al Pacino) está saindo da prisão e vai tentar reconstruir sua vida longe do crime e negar seu passado como o traficante de heroína mais barra-pesada e respeitado de Nova York. Assim, Carlitos resolve pegar um “financiamento” e investir em um clube (o maravilhoso El Paraiso) a fim de juntar grana e depois fazer as malas para o Bahamas. Ele ainda contrata o fiel Pachanga (Luiz Guzman) para garantir proteção. Mas, toda cautela não é suficiente e logo ele arruma atrito com um novo traficante, Benny Blanco (John Leguizamo).

Carlitos ainda vai tentar reconquistar Gail (Penelope Ann Miller) - a mulher que namorava antes de ser preso - e ajudar o amigo David Kleinfeld (Sean Penn) a resolver um negócio com mafiosos italianos. Tudo isso regado a muita luz, disco, roupas extravagantes, mulheres lindas, caras estilosos, cenas externas verticalizadas e longas tomadas sem interrupções. Muito estilo, muito estilo. “Aqui estou eu imitando Humprey Bougart”, diz Carlito na primeira cena em que aparece como dono do bar. Outra cena antológica é a perseguição no Grand Central Station (lembra de Pacino abaixado em uma escada rolante mandando bala para todos os lados?). Mais uma vez a estória do bandido em busca de expiação e o resultado, novamente, é excelente. Ainda mais sob o comando caprichado de Brian de Palma e a ajuda de um inspirado Al Pacino.

Ponto Alto: O protagonista entra na boate em que a namorada faz strip-tease – longa tomada sem cortes.

Ponto Baixo: O desfecho da trama é revelado logo no início. Mas, neste caso, isso não passou de detalhe.