28 de novembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona

Fui todo empolgado ver o novo de Woody Allen e saí decepcionado. O tema do pragmatismo dos americanos versus o espírito libertários dos europeus é batido e o cineasta não apresentou nada de novo, na verdade se afundou em um sem fim de situações comuns. Minha memória só conseguiu buscar Só Você – farofa com Marisa Tomei e Robert Downey Jr. que enriqueceu nosso capenga vocabulário romântico há uns bons 10 anos atrás. A ciranda de paixões propostas por Allen em Vicky Cristina Barcelona é falsa e mal estruturada e, assim, somos levados a crer que não é obra de um artista genialmente cínico que tem o poder de interpretar situações cotidianas como nenhum outro.

Vamos aos fatos - as personagens que dão nome ao filme são duas americanas que vão passar o verão (verão longo, viu!) em Barcelona e lá irão experimentar o estilo de vida espanhol. Enquanto Vicky (Rebecca Hall) está prestes a se casar e apenas quer concluir os estudos em cultura catalã, Cristina (Scarlett Johansson) não sabe bem o que quer da vida, apenas quer viver de maneira intensa. Elas conhecem o pintor Juan Antonio (Javier Bardem), o tipo sedutor mais óbvio dos últimos tempos, que com um papinho de boteco leva as meninas para um final de semana na bela Oviedo. Lá tem início um triângulo amoroso que se tornará um quadrado com a chegada de Maria Elena (Penélope Cruz) – ex-mulher do pintor.

Vamos destacar o personagem central da trama; o Juan Antonio de Bardem parece zombar do publico com uma caricatura tão óbvia do sedutor latino; isso sem mencionar o poder de persuasão previsível - na verdade, ele apenas usa os argumentos desconsertados das mulheres a seu favor. A conturbada relação de Juan com a ex-mulher rende alguns momentos divertidos, mas que logo se tornam repetitivos e inverossímeis, mesmo em um lugar em que as pessoas se expressam de forma expansiva. Nesta linha, a Maria Elena de Penélope Cruz deixou o histrionismo se sobrepor à sensualidade.

Com tantas críticas, fica a impressão que odiei o filme, mas não é bem assim. Vicky Cristina Barcelona é leve e fácil de assistir e, apesar de tudo, vemos o bom e velho Allen em alguns momentos. Os melhores exemplos são a ironia de um personagem ao tema de mestrado de Vicky e a seqüência em que Cristina é questionada sobre o motivo que a levou a estudar o idioma chinês. Outro ponto forte é que a cidade de Barcelona foi muito bem fotografada, entretanto tudo leva a crer que o roteiro foi elaborado para se encaixar aos pontos turísticos e não o contrário. Para um cineasta comum, Vicky Cristina Barcelona seria uma obra satisfatória, mas para alguém com o talento de Allen fica abaixo da linha do medíocre.

Ponto Alto: a música e o som pontuam a trama de maneira bem eficiente.

Ponto Baixo: o esperado beijo entre Johansson e Cruz é uma desapontadora bitoquinha acompanhada de um carinho no rosto. Muito barulho por nada.

24 de novembro de 2008

O Massacre da Serra Elétrica

Este clássico do horror é presença obrigatória na lista de quem se aventure a entender o cinema americano. O filme tem um tom documental genuíno que empresta uma urgência desesperada ao espectador – uma sensação que vai além do medo. A grande obra de um cineasta, tanto que, a despeito do relativo sucesso comercial que alcançou depois, Tobe Hooper sempre será lembrado pela originalidade de O Massacre da Serra Elétrica. O filme foi realizado com uma liberdade artística evidente e não temeu em ser ousado. Nos anos 1970, o hype era ser politicamente incorreto e os excessos de toda esta geração foram escancarados com a crueza necessária em câmeras de 16 mm neste exemplar singular do cinema independente.

A suposta lenda urbana de um grupo de jovens vítimas de uma família redneck do Texas é uma coletânea de lendas, fatos e preconceitos que ajudam a construir e/ou consolidar um arquétipo do medo. O tema por si é indigesto e, para piorar, a construção dos personagens e situações passam a impressão de que estamos diante de um vídeo amador - o pesadelo parece mesmo real. Sem falar no insaciável combustível hedonista quer perpassa não só o que vemos na tela, mas a produção como um todo. Ao contrário de qualquer conceito do establishment atual, somos deleitados com um festival de seqüências perturbadoramente antológicas.

Antologia suja construída com a desconstrução de mitos do american way of life: veterano de guerra ardil e sanguinário, a morte de um cadeirante sem qualquer valoração por conta das suas limitações e a nada convencional cena de jantar em família são apenas exemplos. Revi um dia desses e o filme continua original, anárquico e assustador. E para alfinetar os moderninhos, vale salientar que não há remake violento e bem produzido que faça jus ao original.

Ponto Alto: a cena da primeira morte com a marretada na cabeça.

Ponto Baixo: não que tenha feito falta, mas vamos dizer que faltou um pouco mais de exploração da sensualidade da protagonista.

20 de novembro de 2008

Falcões da Noite

Filme policial estiloso e casca grossa ambientado em uma úmida Nova Iorque no início dos anos 1980. Astros de primeira linha, violência sem frescura e ainda uma trama de terroristas com atentados na Europa. Falcões da Noite é um filme bom, mas não passa disso, pois em momentos cruciais da trama seus realizadores optaram por lançar mão de uma ironia que pode soar agressiva a quem curte o gênero. Particularmente, não gostei de certas resoluções que tiraram o foco do contexto violento e sério que pautava a obra até então. Pensando com calma, depois da cena do teleférico – estilo 007 fanfarrão - tudo já tinha ido por água abaixo mesmo e a tal “sacação final” apenas pôs fim a quem, assim como eu, ainda acreditava em alguma redenção.

Pois bem, vamos falar das flores. Stallone faz o cana barra pesada Deke DaSilva - veterano da guerra do Vietnã, cheio de marra, que marca território com o cabelo grande, a barba e o inseparável casaco de couro. Seu parceiro de polícia é outro poço de estilo, o bruto Matthew Fox (o galã Billy Dee Williams) – os dois vivem armando botes em traficantes e ladrões dos bairros mais violentos de Nova Iorque. Fazem um excelente trabalho, mas são rechaçados constantemente pelos superiores. A propósito, DaSilva está em uma fase de reconciliação com a ex-mulher Irene (vivida pela famosa Lindsay Wagner, em papel pequeno). Do outro lado da linha, temos o terrorista Wulfgar (Rugter Hauer, sempre mesclando elegância e agressividade na dose certa) que depois de aprontar nas ruas de Londres e Paris se manda para Nova Iorque para fazer valer uma lógica política precipitada mal explicada no filme. Wulfgar ainda conta com o apoio da bela Shaka (Persis Khambatta).

O diretor Bruce Malmuth - que, entre outros, fez o figurinha carimbada da sessão de gala Onde Estão as Crianças? e também Difícil de Matar com Steven Seagal - sabe criar estilo, mas tem mão frouxa na condução da trama. A despeito de tudo nos deleitamos com cenas pra lá de icônicas, como a perseguição que se inicia na boate e termina na estação do metrô e a canastrice de Stallone fazendo beicinho ao receber a notícia de que em uma situação de risco pode haver a possibilidade de ferir alguém para deter o tal terrorista. No fim, o saldo positivo se deve a bela construção de algumas seqüências. Mesmo assim, não vale a consciência pesada, pois se nem os realizadores levaram o filme a sério, não é o publico que os vai redimir!

Ponto Alto: Billy Dee Wiliams faz o coadjuvante dos sonhos de todo o protagonista – dá uma força, se machuca, mas sua presença no fundo pouco acrescenta – nada sabemos sobre o personagem ao longo trama. No caso de Falcões da Noite, ele apenas impregnou os frames de estilo.

Ponto Baixo: as cenas de drag queen.