30 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2


Wagner Moura volta ao BOPE da PM carioca, agora como tenente-coronel Nascimento. O roteiro é bem tranqüilo - depois de uma ação, no mínimo contundente para conter uma rebelião presidiária, Nascimento assume um posto estratégico na Secretária de Segurança no Rio e usa seu cargo para transformar o BOPE em uma máquina de guerra. O BOPE vence a guerra contra os traficantes, mas apenas “limpa” as favelas e baixadas para a entrada das milícias, comandadas por oficiais da PM e que também serve de curral eleitoral. Personagens secundários em traminhas envolvendo a família do protagonista cuidam da empatia do policial casca grossa com o público. Uma boa diversão: com roteiro enxuto, bom ritmo e eficiente direção de atores.

O problema é que o filme tem um público grande e isso se deve realmente à qualidade da produção, ao carisma do protagonista etc. Só que como qualquer produto que dá certo, acabou por ditar moda, gerar conceitos e causar reflexões. Acho que todos os realizadores estavam cientes de estar fazendo apenas um filme de ação e não um oráculo da sociedade brasileira atual.

Capitão Nascimento é apenas um fortão ingênuo, que sempre cuidou mais do corpo que da mente, digamos assim. Ele não deve ser um exemplo a ser seguido apesar de ter alguns bons valores. Mas o público, encantado com o protagonista e sua lógica torta tem a lição de moral capenga do personagem como verdade absoluta e se diz horrorizado pelas traquinagens do submundo político brasileiro e cansado da violência... Não perceberam que a frase do oportunista apresentador de televisão que vira deputado: “vai mandar bombom pra vagabundo agora”, poderia muito bem ter saído da boca de Nascimento.

O público encarou a produção como uma redentora de todos os anseios da classe média cansada da violência e, por aí, vai. Entretanto, o roteiro tenta fugir dessa armadilha por meio de boas sacadas, como a maturidade no retrato do deputado Fraga (Irandhir Santos) e, principalmente, a “diminuição” do personagem de Wagner Moura. Ele aparece menos e com bem menos energia que no primeiro. Está mais maduro e sofre com a ausência da família e a descoberta de algumas verdades inconvenientes. Há algumas situações forçadas como o final moralista estilo novela das oito, mas como diversão é mesmo um espetáculo.


Ponto Alto: o personagem molenga e corrupto de Milhem Cortez ganhou um parceiro/desafeto à altura na pele do Major Rocha (Sandro Rocha). Impagável na cena do almoço na favela.

Ponto Baixo: A traminha envolvendo a jornalista xereta (e muito burra) foi uma forçada do roteiro para fechar uma situação maior. Entretanto fugiu, e muito, do bom senso.