17 de março de 2011

Cães de Guerra


Quando garoto, adorava ler os livros de espionagem de Irwing Wallace e Frederick Forsyth. Eram livros baratos e charmosos com espiões brilhantes desfilando charme por cenários europeus em tramas cheias de reviravoltas, que geralmente tinham a guerra fria como pano de fundo. Achava divertido demais, mas meu tesão por este tipo de literatura caiu por terra quando comecei a ler gente como John Le Carré e Ken Follett, que eram igualmente cafonas, mas se levavam a sério. Aí ficou chato! Feita esta apresentação, vamos falar de Cães de Guerra, baseado em livro de Forsyth.


Trata-se de uma produção dirigida pelo competente (e pau pra toda obra) John Irvin e estrelada por Christopher Walken. A idéia dos realizadores foi deixar a violência pirotécnica das “batalhas” para o final e se concentrar nos bastidores da preparação de uma guerra, digamos assim. E a coisa deu certo. Cães de Guerra é bem divertido e a boa sequência de ação no clímax da trama serve pra coroar a boa narrativa. Na trama, acompanhamos as aventuras de Jamie Shannon (Walken), um mercenário norte-americano bem sucedido, em tentar derrubar um sanguinário ditador africano a fim de atender aos desejos comerciais de uma grande empresa de exploração mineral.


Primeiro, Shannon, disfarçado de fotógrafo de pássaros, vai espionar o pequeno país, chamado Zangora, e sente a fúria do cruel ditador Kimba (Ilario Bisi Pedro). Mas, ajudado por um jornalista britânico, consegue sair do país. De volta aos Estados Unidos, pega sua grana, sem não antes receber um convite mais audacioso, reluta em aceitar, mas, devido a falta de perspectiva de sua vida pessoal, aceitar destronar Kimba. Reúne, então, seu grupo de mercenários veteranos, destaque para o cinismo de Tom Berenger como Drew, seu braço direito. Em Londres, a turma articula o violento golpe negociando armas, licenças etc. Nas subtramas, Jamie reencontra o jornalista inglês e ainda descobre que o golpe não vai ajudar em nada o combalido povo de Zangora. Depois de uma viagem partindo de um porto de Málaga, a esperada cena da guerra. O final é o que podemos chamar de inesperado previsível. Mas não deixa de ser um desfecho acertado e, até certo ponto, corajoso.


Cães de Guerra está longe de ser um filme excepcional. Sequências foram nitidamente cortadas a fim de dar mais agilidade e cadência ao filme, o que resulta em várias situações mal resolvidas. O pequeno exército de mercenários, por exemplo, é muito mal explorado, nem o personagem de Berenger mereceu tratamento especial. Não sabemos nada de ninguém. O único tratado com um pouco mais de respeito é o protagonista Shannon. Não acho que chega a ser culpa do roteiro, mas o problema de edição é nítido. Tudo é muito corrido. Apesar da óbvia falta de profundidade e de não ter lido o livro que originou o roteiro, dá pra sentir a atmosfera cafona e simplista de Forsyth em toda a narrativa.


Ponto Alto: (spoiler) A morte do personagem de Berenger é uma boa sacada. Violenta e inesperada. Entretanto, como foi dito, o personagem pouco importa, o que tira um pouco o impacto da sequência.


Ponto Baixo: numa tentativa de humanizar o personagem de Walker, optou-se por mostrar a relação de proteção que mantém com um garoto negro da vizinhança. Tudo é vago e impreciso e acaba por ser completamente dispensável.