21 de dezembro de 2008

Halloween


Tudo bem que a irregularidade é uma característica dos filmes de Rob Zombie, pois ele não tem lá muita mão pra criar roteiros ou gerar momentos de tensão; entretanto, em termos de estilo e ousadia, suas produções são ímpares. Neste Halloween, a cena iniciada por Love Hurts do Nazareth é uma das coisas mais ousadas e estilosas que vi no cinema mainstream nos últimos tempos. Para mostrar uma criança iniciando uma carnificina violentíssima no renascimento de um ícone pop tem de ser, no mínimo, atrevido. O problema é que, após um momento tão marcante, há a infeliz seqüência do garoto no internato, com uma tentativa confusa de tentar ilustrar o mal – edição remontando a um dos trabalhos anteriores do cineasta: A Casa dos 1000 Corpos. Entretanto, depois do tédio pretensioso, o menino ataca uma enfermeira e aí todo o talento do cineasta ressurge. E é com esses momentos díspares que Zombie reconta a estória de Michael Myers, personagem criado por John Carpenter nos saudosos anos 1970.

O filme de Zombie cai bastante depois que Myers cresce (e muito, vira um gigante), foge do internato e volta para a pequena Haddonfield a fim de terminar um serviço que começou quando criança. O tema batido e a falta de tato em gerar aflição no espectador não ajudam muito. Em compensação, as cenas violentas seguem visualmente impecáveis. No elenco, destaque para a musa Sheri Moon e William Forsythe, como um padrasto nada afetivo, sem falar nas pontas de Ken Foree, Bill Moseley e Danny Trejo.

Parênteses para Malcolm Mcdowell como o Dr. Loomis. Mcdowell mais uma vez insiste em dar provas de que não soube envelhecer. O ator genial de Calígula e Laranja Mecânica foi a personificação do rolling-stone-way-of-life no cinema – olhos esbugalhados, gesticulação frenética e uma marcante áurea junkie; além, é claro, do inegável talento. Sei lá por que cargas d’água, mas o cara nunca mais repetiu aquelas atuações e foi escolhendo papéis com dedo podre – chegando ao cúmulo de participar daquelas produções softcores ridículas que a Band não cansa de reprisar nas sextas sexies da vida. Neste Halloween, o ator dá mais uma prova de que seu estilo não resistiu ao tempo. No universo dark e cabeludo de Zombie, o personagem do psiquiatra, deslocado e ofegante, virou uma mera caricatura.

É fato que, feitas as contas, o Halloween de Zombie paira acima do lugar comum do cinema americano. Entretanto, a fragilidade do argumento e outra série de defeitos (o que é aquele calabouço edwoodiano no qual Myers aprisiona sua irmã?) trouxeram muitas críticas negativas e o filme ficou marcado como um caça-níquel sem atrativos. Não concordo com esta opinião; pois, a despeito de tudo, se não pelo conjunto da obra, gostei de Halloween pelas sangrentas seqüências do massacre inicial e do desfecho.

Ponto Alto: Zombie selecionou bem o casting feminino e foi extremamente generoso nas cenas de nudez. Ponto pra ele.

Ponto Baixo: a protagonista Scout Taylor-Compton dá uma melhorada no duelo final, mas levou o filme todo no piloto automático com aquela carinha de atriz dos seriados de Aaron Spelling.

7 de dezembro de 2008

Ebola Syndrome


Filme realizado para um público que não se incomode em entrar na tosqueira exagerada proposta pelo cineasta. A estória recheada de situações de mau gosto conta a torta trajetória de um chinês que após realizar um triplo homicídio em Hong Kong vai tentar a sorte em restaurante na África do Sul e acaba por contrair o vírus Ebola. O detalhe é que o cara é tão escroto que tem imunidade ao Ebola, mas se transforma em um hospedeiro dos mais indesejados. O filme é um festival de extravagâncias, o que justamente torna a obra, se não divertida, ao menos curiosa. Vamos a alguns momentos que desde sempre fazem parte da antologia asiática do cinema extremo: o vilão se masturba com um pedaço de carne de porco e depois os serve aos clientes do restaurante, as crises com as pessoas se debatendo e babando por conta do Ebola merecem aplausos de tão ruins, o vilão adquiri o ebola ao estuprar uma moribunda (ela tem espasmos durante a penetração e o cara fica com dificuldade de, digamos, desfazer o ato sexual), os hambúrgueres feitos com carne de gente morta e por aí vai.

Em contraposição, vale citar algumas tomadas diferentes do corpo humano - mais especificamente, a boca, repleta de saliva e vírus. Idéia legal e bem apresentada. Mesmo assim, o filme quis e decididamente faz jus ao rótulo de trash. Para quem quiser rir ou ficar de estômago embrulhado com o show de escatologias este Ebola Syndrome é imperdível. O chauvinismo do protagonista e o preconceito fanfarrão contra negros, brancos e os próprios asiáticos podem mexer com os brios dos críticos mais sensíveis, mas decididamente este tipo de cinema não foi produzido para os mais sensíveis.

Ponto Alto: o protagonista sempre agitado é um achado. O diretor Herman Yau e Anthony Wong trabalharam no famigerado The Untold Story um pouco antes e aqui dão mais uma prova da afinidade da dupla.

Ponto Baixo: a cena da garotinha dividindo um doce com seu cachorrinho provoca náuseas, mas apresenta um gancho que definitivamente não tem nada de diferente do convencional.