Zombie

Esqueça o Rosebud em Cidadão Kane. Esqueça Marlon Brandon recebendo os convidados na festa do casamento da filha em O Poderoso Chefão. Esqueça Anita Ekberg na Fontana de Trevi em A Doce Vida. Esqueça a imitada seqüência da escadaria em Encouraçado Potemkin. Esqueça o corte no olho em Cão Andaluzia. A GRANDE cena da história do cinema é a briga entre um tubarão e um zumbi em Zombie, dirigido pelo nosso querido Lucio Fulci em 1979. Uma criatividade inigualável, nem tão imitada e acusada de pouco original, mas de uma plástica e de uma satisfação ímpar para o espectador. Coisa de gênio!
Brincadeiras à parte, essa obra-prima dos pobres (eu entro aqui) é um dos momentos altos do cinema de baixo orçamento italiano. Essa história de copiar os famosos filmes americanos em baratas produções italianos foi mesmo a menina dos olhos da turma durante o final dos anos 1970 e toda a década seguinte. As estórias eram chupadas de produções famosas americanas, mas misturadas e produzidas com um oportunismo tão carinhoso que era impossível não se deixar levar pelas belas imagens e músicas caprichadas, afinal italianos sempre dão um toque especial quando falamos de estética.
Aqui, acompanhamos as peripécias de um casal em busca de uma boa história. Ele, Peter (Ian McCulloch), é jornalista e depois da bronca do chefe é capaz de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, por uma boa reportagem. A motivação de Ann (Tisa Farrow), para se aventurar por uma ilha no meio do nada é mais “nobre” – quer saber o paradeiro do pai que era dono do barco que atracou misteriosamente em Nova Iorque. Zumbis na cidade, uma correria aqui, uma carta encontrada ali, os dois vão parar em um paraíso tropical e encontram um casal que topa ser guia dos aventureiros atrás da ilha Matoul. Lugar paradisíaco onde um estranho médico, interpretado por Richard Johnson, realiza experiências a fim de descobrir por que os mortos voltam à vida naquele lugar.
Pausa para a famosa cena do tubarão supramencionada na qual também somos brindados com o topless maravilhoso da bela desconhecida Auretta Gay. Eles então chegam à ilha, justamente no momento em que a coisa degringola com os experimentos saindo do controle e a zumbizada a solta por aí. No meio da correria, a mulher do tal médico é atacada ao sair do banho e se tranca no armário. Pausa para a famosa cena da imensa flerpa no olho. Fulci sabia mesmo usar o “olho” como poucos. O final é meio triste e não oferece muita alternativa para a humanidade, ou, ao menos, para Nova Iorque. Uma série de clichês bem construídos, com uma música maravilhosa e um clima sufocante. Um dos grandes do NOSSO tipo de cinema!
Ponto Alto: a ponta hithcockiana do diretor como o editor do jornal.
Ponto Baixo: o roteiro é simples demais e funciona como uma desculpa para destilar talento. Realmente não se é um ponto negativo; afinal, quem precisa de traminhas cheias de idas e vindas?