A Hora da Zona Morta

Todos esses fatores constroem o clima ideal para a estória do professor de literatura Johnny Smith (Christopher Walken). Ele é um cidadão super do bem e após um acidente, que o deixa cinco anos em coma, volta ao convívio social com fortes poderes premonitórios. Ainda atormentado pelo novo dom, que não sabe se é uma bênção ou uma maldição, Johnny ajuda a salvar a filha de uma enfermeira, desenterra fantasmas do passado de seu médico e tira um sarro com um jornalista folgado. Chega então o momento de fazer algo maior e, após certa relutância, ajuda o delegado da cidade vizinha, interpretado por Tom Skerritt, a capturar um perigoso serial killer. O desfecho desta seqüência é um dos pontos altos do filme. No meio de tanta novidade, Johnny perde a mãe e volta a se relacionar com a namorada de antes do acidente, Sarah (Brooke Adams); o detalhe é que a garota está casada e tem um filho. Parece impossível, mas o relacionamento entre o casal não é canalhice.
As visões são um processo desgastante para Johnny. O cara já é branco, e, devido a exaustão por conta dos novos poderes, fica praticamente transparente, até o cabelo parece sem cor. Assim, ele busca se isolar e passa a tentar a ganhar a vida dando aulas em seu novo refúgio. Engraçado, as pessoas mandam cartas para o cara e parece não ser muito difícil localizá-lo, mas mesmo assim ele jura que está isolado. Por fim, o sacrifício depois do contato com um inescrupuloso candidato ao senado, Greg Stillson (Martin Sheen, destilando canastrice). Aliás, o exagero no retrato de um político tão pilantra pode parecer inverossímil em princípio, mas faz sentido pelo caráter fantasioso da obra. Aliás, retrato de homem público safado é caso de documentário quando falamos de Brasil.
A Hora da Zona Morta é um filme forte, bonito e que, a despeito de várias inconsistências, soube envelhecer como uma das melhores obras derivadas desta agência de literatura barata chamada Stephen King. Na verdade, King tem uma criatividade realmente impressionante para bolar personagens e situações estranhas, entretanto suas obras dariam, no máximo, uma crônica e nunca um romance. Mesmo assim, ele as estende com uma técnica literária ruim por centenas de página. Aí fica difícil! Mesmo assim, as idéias são mesmo, na maioria das vezes, intrigantes... daí o sem número de adaptações para a TV e o cinema. Neste A Hora da Zona Morte, temos uma produção adulta e amarga em que o processo de amadurecimento de um cineasta hermético como Cronenberg fica evidente. Nostalgia pura para quem está arranhando os 30 anos.!
Ponto Alto: A violência raras vezes é explícita, mas aquele incômodo psicológico que perpassa toda a projeção deixa o espectador inseguro e assustado.
Ponto Baixo: Deu a impressão que trechos do livro foram picotados no roteiro de Jeffrey Boam. São vários momentos perdidos ou que pouco acrescentam, como a relação de Johnny com o garoto Chris (Simon Craig). Várias pontas e situações ficaram soltas. Talvez seja problema de edição, um dos pontos fracos de Cronenberg.