31 de outubro de 2008

La Casa Dalle Finestre Che Ridono


O filme não é de todo ruim, mas por comentários de amigos, confesso que esperava mais. A estória do restaurador Stefano (Lino Capolicchio) que ao chegar a uma pequena cidade italiana passa a investigar estranhos acontecimentos ocorridos com o pintor do afresco de São Sebastião que tenta restaurar é razoável, mas sinceramente careceu de um roteirinho mais bem elaborado e de uma produção melhor acabada. Enquanto o incipiente investigador adentra nos meandros da cidade e descobre os segredos de seus habitantes somos atacados por uma horda de situações lugar-comum que veríamos depois em uma infinidade de obras. Não há como discutir o caráter inovador do filme em 1976, como também não há como negar que La Casa... não resistiu tão bem ao tempo e, numa inversão irônica, acabou por se tornar uma obra comum.

Vamos aos fatos – Stefano tem um amigo na cidade que tenta alertá-lo do perigo em investigar os desdobramentos da vida do pintor, mas o que ocorre? O amigo morre. O tal mistério principal envolve um caso de família mal resolvido e todos na cidade têm consciência dos crimes, mas o único disposto a falar é um bêbado (o Coppola de Gianni Cavina), que logicamente carece de credibilidade. Há o affair do protagonista (a bela Francesca – Francesca Marciano) a quem desconfiamos no início, mas descobrimos a posteriori ser apenas mais uma vítima. A polícia não descobre nada quando é convocada pelo incauto investigador. E, por fim, o personagem mais óbvio aparece como o derradeiro vilão. Ou seria vilã? Por mais simpáticos que sejamos ao gênero, é fato que a produção sucumbiu à superexposição dos próprios clichês.

Infelizmente, a concepção estética da produção também tende ao local comum. Obviamente, o filme é bem retratado, a música é boa e algumas seqüências realmente causam tensão. Entretanto, não há nada no filme de Pupi Avati que se destaque. Mais uma vez tudo (ou quase tudo) caiu na vala comum. Não há como negar que contemporâneos e conterrâneos de Avati como Argento e Fulci são bem mais gráficos não só do ponto de vista da violência, mas também no acabamento estético. Por outro lado, é impossível não reconhecer que assistir ao filme é uma boa diversão. La Casa.... tem um bom ritmo e apesar de óbvia, a trama prende a atenção. Até o lugar comum do cinema italiano lá nos 1970 é diferenciado.

Ponto Alto: o melhor momento, sem dúvida, é a tomada com a tal "casa das janelas que riem”.

Ponto Baixo: faltou um pouco mais da boa e velha sensualidade italiana.

21 de outubro de 2008

Cidadão X


A história da caçada da polícia soviética ao insaciável serial killer Andrei Chikatilo deu um excelente telefilme com gente do porte de Stephen Rea, Donald Sutherland e Max von Sydow no elenco. Na verdade, a história é focada nas perrengas enfrentadas pelo médico-legista Viktor Burakov (Rea) elevado à condição de investigador e perseguidor do mais cruel assassino da cortina de ferro, que matou mais de 50 jovens nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Toda a investigação passava pelo crivo do partido comunista e os problemas eram muitos, não só pelo ponto de vista ideológico, mas principalmente pelas limitações estruturais.


O filme faz severas críticas ao sistema comunista e uma coisa ou outra ainda parece provocação gratuita (uma vez que Citizen X é de 1995), mas é evidente a falta de tato por parte do governo soviético para enfrentar um monstro como Chikatilo (aqui vivido com a angústia necessária por Jeffrey DeMunn). Mas será que é simples enfrentar um homem que leva uma vida aparentemente normal, mas para saciar um instinto bizarro ou uma frustração deplorável molesta e mata crianças? Definitivamente não, uma vez que do lado de cá da ficção, países ricos sofrem com a profusão destes monstros sociais, cuja imprevisibilidade da atuação torna praticamente impossível qualquer ação de prevenção. O que países com um aparato tecnológico melhor e um banco de dados mais completo geralmente faz é identificar e tirar de maneira mais célere o serial killer de circulação, pois no caso de Chikatilo o próprio governo soviético se negava a acreditar na existência de um assassino tão brutal – o que realmente dificulta e muito qualquer trabalho.


Apesar de detalhes como o fato de todos falarem inglês na União Soviética (isto me causa incômodo desde Casa dos Espíritos) e o protagonista ser um ser humano composto apenas de virtudes deixarem a produção com a cara da boa e velha dialética maniqueísta do cinema americano, isto não estraga o fato de Cidadão X ser uma produção intrigante e muito bem realizada. Na verdade, o que importa é que o filme é bem conduzido e deixa o espectador ligado até os créditos finais. E olha que estamos falando de uma produção feita para a televisão. Merece e muito ser descoberto.


Ponto Alto: Donald Sutherland como o oficial irônico que agiliza por baixo dos panos as coisas para o esforçado Burakov destila talento. E olha que o pai do nosso querido Jack Bauer levou no piloto automático.


Ponto Baixo: A entrada do psiquiatra interpretado por Sydow, que cria o tal relatório Cidadão X com o perfil psicológico do assassino é feita de supetão. A importância do personagem é fundamental na trama, entretanto ele é muito mal explorado.

2 de outubro de 2008

Abre Los Ojos


Quando Tom Cruise e Cameron Crowe realizaram Vanilla Sky todos acharam o filme diferenciado e correram atrás do original, idealizado por Alejandro Amenábar e protagonizado por Eduardo Noriega um tempinho antes. Muitos se frustraram com o filme espanhol, mas o preconceito é infundado, pois, apesar da versão americana ser mais bem realizada (produção caríssima e tal), é fato que não é mais interessante (e muito menos original, obviamente) que seu antecessor. Enquanto Tom Cruise - apesar de qualquer preconceito que se possa ter contra o cara - passeia quando posto em comparação com o nosso eterno platinha queimada Noriega, Cameron Diaz definitivamente não é melhor que sua rival latina (Najwa Nimri) e no duelo Fele Martínez versus Jason Lee sugerimos um empate técnico com ligeira vantagem para o americano. Como Penélope Cruz é a tal musa Sofia nas duas produções e o personagem do psquiatra tanto faz como tanto fez, deixamos o desempate para outro diferencial que é o clímax do filme. E aqui é inegável que o original é mais sustentável que seu primo rico. Sem falar que ter a idéia original também conta pontos e, dessa forma, o ouro vai para Amenábar.


Novamente acompanhamos a trajetória do playboy mulherengo (mas sensível e inteligente) que se vê diante de um dilema ao comer o pão que o diabo amassou depois que fica deformado por conta de um acidente. Ele tinha tudo e com o rosto destruído desliga-se de um mundo no qual sempre reinou como protagonista. Ele não sabe lidar com a sensação de ser desagradável, e aí parte para um tratamento nada convencional. O bom do filme é que a galera com menos de 40 anos vai se identificar com dilemas como envelhecimento, eternidade, beleza, desejo, dinheiro, sexo... Um estudo superficial e deliciosamente pop, mas que inegavelmente causa reflexões. Não é mania de moleque metido a indie não, mas que este pequeno clássico moderno fica ainda mais autêntico e charmoso com sotaque latino isso fica. Pode acreditar!


Ponto Alto: Penélope Cruz quando fala espanhol é mesmo uma atriz diferenciada. É aqui ela se sobressai.


Ponto Baixo: o roteirista teve uma idéia, colocou no papel e viu que o negócio era bom pra ser filmado, entretanto a produção, nitidamente sentido o peso da falta de dinheiro, acaba por exagerar na improvisação em certos momentos. E é nesses momentos que refletimos como a máquina hollywoodiana sabe mesmo tornar mais críveis as fantasias.