26 de outubro de 2007

Calafrios


Acabei de sair do cinema depois de ter visto aquela bomba chamada Os Invasores - . A bomba tem diretor alemão e a pior atriz de todos os tempos no elenco, além de jurar de pé junto que se trata de uma nova versão da estória de Jack Finney. Além de uma mensagem duvidosa do ponto de vista sociológico e ético, presenciei duas horas de uma ficção científica frouxa e que mais parecia teatro infantil. Sem falar daquela porra convencional de ter de ir atrás do filho mesmo que a existência humana tenha de ser sacrificada, do olho no olho no momento de desespero, das conclusões geniais feitas por pessoas comuns em questões de segundos, dentre outras merdas. Pois bem, ficção científica parte de premissas inverossímeis, daí o talento de seus realizadores em fazer algo que ao menos se torne crível ao primeiro olhar. Isso não acontece com a produção hollywoodiana, que se leva a sério demais. Entretanto no filme Calafrios, obra seminal de Cronenberg, temos um dos modelos mais fidedignos desta proposta de invasores de corpos – que serviu e ainda é usada para uma infinidade de alegorias.

Feito no início da carreira do nosso canadense preferido, o filme é repleto de erros, mas é muito autêntico em identificar o espectador com sua situação ilógica. Vejamos, a trama toda se passa em um condomínio de luxo em uma isolada ilha canadense e a epidemia é causada por um erro de cientistas que pretendiam criar uma bactéria que se adaptasse ao corpo humano e se transformasse em órgãos – dispensando a necessidade de transplante no caso de alguma debilidade fisiológica. Entretanto, uma garota do condomínio é usada na experiência, que obviamente dá errado. Como a epidemia se alastra principalmente por relações sexuais e a menina é promíscua...

O espectador acompanha o desenvolvimento dos sintomas - terríveis cólicas abdominais e monstrinhos em forma de larva – por meio de Nicholas Tudor (Allan Kolman). Os sintomas são aqueles tipo zumbi de praxe, acrescido do fato dos infectados terem uma maior compulsão sexual. Lógico que alguns são mais maliciosos e sedutores, e outros, digamos, mais compulsivos mesmo. Nossos heróis são o “galã” Paul Hampton, como o Doutor Roger St. Luc e sua namorada, a enfermeira Forsyth (Lynn Lowry). Ele faz o tipo McQueen dos pobres, enquanto ela é a ninfetinha esperta. O legal é que os personagens têm seus atos heróicos limitados a suas condições físicas e a própria situação a qual estão envolvidos.

O elenco em si não compromete o resultado final que, a despeito de uma série de imperfeições, são compensados por aquele delicioso climinha B dos anos 1970. Sem falar que o melhor do cinema de Cronenberg do início da carreira está aqui – teses científicas absurdas e assustadoras, aquele povo branquelo e feioso do Canadá e, é claro, a sexualidade. Enfim, cabe dizer que o clima onírico indispensável a uma idéia tão surreal e pretensiosa está em Calafrios, mas não no filmeco de Nicole Kidman. Mais uma vez o cinema parece andar para trás.

Ponto Alto: a cena final é um deslumbre.

Ponto Baixo: muitos erros de edição passam do limite do aceitável. Personagens mudam de posição de um enquadramento para outro, entre outros.

20 de outubro de 2007

Island of Death


O filme é uma coleção de pequenas bizarrices com uma temática meio torta, que tenta fazer críticas ao puritanismo ou a instituições mais conservadoras como a igreja. Tudo bem! Mas o lance é que a pretensão, a falta de recursos e a maluquice dos realizadores (deveria ser distribuído ácido antes das gravações) deixam a coisa com um ar lisérgico e fake demais. A trama é a seguinte: casal inglês vai parar em uma ilha paradisíaca na Grécia e tentar limpar o lugar das influências ruins. Qualquer tipo de comportamento fora do convencional será punido com violência pelos justiceiros do bem. Mas o cara é atormentado e também tem de lidar com suas taras – faz uma zoofilia com uma cabra e depois a mata, pois a bichinha é a culpada de tudo. Lógica zero...

Pois bem Christopher (Bob Behling) e Celia (Jane Ryall) ainda matam um restaurador francês que queria fornicar com a moça, um policial (ou detetive) negro que sai de Londres no encalço da dupla e acaba morto ao estilo James Bond, um casal de gays que acabou se de casar, uma lésbica junkie, uma viúva rica e pervertida etc. Em meio a tanta justiça, a moça fica atormentada e pensa em desistir, mas Christopher insiste na idéia de deixar lugar limpo. Lá pelas tantas, Célia sofre um a tentativa de estupro por parte de dois hippies e Chris tem de resolver o problema da forma mais convencional possível. Depois da reviravolta final, os dois são acolhidos por um humilde pastor de ovelhas. E como o desfecho já tinha sido revelado no início do filme, ficamos por aí.

Realizado em 1975 por um grego doido chamado Nico Mastorakis, o filme é até fácil de ver, mas não diz nada e não leva a lugar nenhum. Não é plástico o suficiente como poderia se esperar de uma produção setentista pouco convencional; nem, tampouco, inteligente em sua ironia, como o diretor pretendia. Entretanto, se tivéssemos um protagonista no estilo maluco-carismático tudo será amenizado. Nada feito, pois o tal Bob Behling deveria estar mesmo muito doido e sua atuação é apenas caricata. Pois é, nem a beleza das paisagens gregas salva o filme. Tem gente que gosta – ganhou estrela de cult, mas na minha humilde opinião o lugar de Island of Death é mesmo no ostracismo.

Ponto Alto: a música folk dá um tom acertado ao clima lisérgico da produção.

Ponto Baixo: sabe qual a grande revelação final? Celia e Christopher são irmãos. Não, isso não. Nossa, relação incestuosa. Estou chocado até agora! Fala sério - esse detalhe não acrescentou nada. Dispensável.

4 de outubro de 2007

Funny Games


Michael Haneke é mesmo um diretor acima da média. E só descobri o cara agora por meio da minha atenciosa e sempre antenada amiga, Jamile. Bem, vamos falar de Funny Games, esta pequena obra-prima recheada de sarcasmo e violência. A trama é absurdamente simples – Anna (Susanne Lothar), Georg (Ulrich Mühe) e o filho pequeno são torturados por dupla de malucos, em bela casa de veraneio. É só isso mesmo, mas além da tortura com aquela frieza européia- aquele desprezo blasé em seu exagero psicológico -, ainda há uma infinidade de alegorias propostas.

A tortura é extremamente cruel sem razão de ser – a interpretação mais teórica fala do exagero para ridicularizar as situações exploradas pela cultura de massa. Vários temas são abordados – religião (a oração forçada de Anna é de doer o coração), MTV, a bagaceira do punk se sobrepõe aos acordes de uma ópera ou de uma música clássica. Grosso modo, pode-se falar naquela tão combalida cultura popular engolindo e reconstruindo o processo cultural puro. Proposta ousada que aqui se sustenta sem maniqueísmos.

A despeito de todo o empirismo, como cinema também vale a satisfação. O diretor brinca com o espectador não apenas nas colocações de metalinguagem, mas a angústia toma proporções gigantescas quando os personagens têm a falsa impressão de uma escapatória. Nós também somos torturados com requintes de crueldade.

Enfim, o filme não é para todos os gostos, mas vai fazer diferença para quem aprecia aquele cineminha europeu aguçado. Ora, nem tanto assim, afinal o próprio Haneke entregou este ano a versão clean desta produção realizada em 1997 (não tem nem 10 anos). Agora com a ajuda de gente como Tim Roth, Naomi Watts e Michael Pitt. Dispenso a reeleitura e fico com a angústia macabra e inteligente do original.

Ponto Alto: o malucaço Paul (Arno Frisch) dá show.

Ponto Baixo: não gosto da ironia da metalinguagem. Entendo a proposta, mas a cena do rewind não entra de jeito nenhum.